Bits to Brands #180 | Cultura do Conforto
O mundo dá voltas, e tem nos trazido de volta a lugares de familiaridade e conforto.
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#178 | Falar (s)em público
#179 | TEDx Speaker
Tempo de leitura: 6 minutos
Cento e oitenta edições. Cento e oitenta semanas, espalhadas em pouco mais de quatro anos e se espalhando pelos mais diversos assuntos. Eu tento não romantizar a jornada, mas números “cheios” me pegam muito. Obrigada, 180 vezes, pela companhia e por abrir espaço na sua caixa de entrada pra esse monte de ideias desconexas que se conectam no final. Seguimos. ♡
- Beatriz
(para falar comigo ou anunciar na Bits, responda esse e-mail ou escreva para beatriz@bitstobrands.com)
Quem assina a Bits há mais tempo, sabe que somos fascinados pela nostalgia e como ela tem regido o universo das marcas e do consumo.
Falamos disso na edição 49 (como se fosse ficar em 2019), o assunto voltou também na edição 154 e, no que depende das marcas, poderia aparecer em todas as edições.
Toda semana tem uma campanha diferente no ar, que mistura uma figura ou música ou produto dos anos 80/90/2000.
Quer ver? Essa semana a Oreo reuniu o elenco do Castelo Rá-Tim-Bum, semana passada O Boticário relançou o perfume Ma Chérie e ainda em agosto a Shoppee recriou “Ilariê” com a Xuxa.
Isso para citar apenas exemplos publicitários, porque a gente poderia falar de moda, de entretenimento, de literatura… Parece que o mundo dá suas voltas mesmo, e tem nos trazido de volta a lugares de familiaridade e conforto.
Gosto de pensar que quando você observa uma tendência pela primeira vez, passa a percebê-la em vários lugares, como quem “abre os olhos” para algo. Essa, em específico, é impossível “desver”.
E hoje, vamos tentar nomeá-la.
O artigo original sobre “cultura do conforto” foi publicado no WePresent, e esclareceu muita coisa por aqui.
Cultura do conforto é o ato de perseguir memórias que despertam um senso familiar de alívio. Livros, filmes, seriados, músicas que você adora e que trazem um sentimento leve e agradável quando você os consome.
“Conforto”, por sua vez, é uma palavra que resume três aspectos importantes sobre essa tendência, sobre nós mesmos e sobre o que consumimos.
O primeiro é o conforto de saber o final.
Que explica por que, por mais que você pague cinco serviços de streaming diferentes e tenha milhares de opções à disposição, você se pega assistindo Friends, ou How I Met Your Mother, ou The Office, Grey's Anatomy, Gilmore Girls, Modern Family…
Todo mundo tem a sua “série conforto”. Um lugar de entretenimento puro e simples, de saber a piada mas rir mesmo assim, de assistir a mesma coisa porém “diferente” conforme a vida passa - e ver naqueles personagens o tempo que passou.
Por mais que a guerra do streaming seja feita de grandes produções e quem tem as maiores celebridades, ela também acontece no “pra onde foi minha série favorita?”.
E acontece até em tempo real: neste momento, a HBO e a Netflix tentam fabricar os ícones das próximas décadas com Game of Thrones e Stranger Things, por exemplo.
O segundo aspecto é o conforto de voltar para tempos mais simples.
O seu “eu” fã de Harry Potter tem uns 13 anos.
O que usava perfume Ma Chérie, devia ter uns 10.
O que assistia Castelo Rá-Tim-Bum, rebobinava fitas num VHS conectado a uma TV de tubo.
O que sabia cantar as músicas da Xuxa tem uns 6 (se bem que o seu “eu” de 30 ou 40 deve lembrar a letra até hoje).
O ponto é que as coisas que nos marcaram nessas épocas da vida têm o poder de nos transportar a elas. São máquinas do tempo no mundo real, e gatilhos fáceis de apertar especialmente quando o assunto é consumo.
Porque você dá ao seu “eu” de 13 anos o cartão de crédito com o limite que o seu “eu” de 30 conquistou. E aí esse limite vai em parques de diversão, livros, camisetas, canecas e objetos de todo tipo.
Eu mesma escrevo esse texto olhando para uma garrafa da Pixar, um chaveiro da Edwiges e uma cópia de O Pequeno Príncipe. ¯\_(ツ)_/¯
“O que a gente encontra no passado, real ou imaginário, é muitas vezes revelador sobre o que sentimos falta no presente. (…) É só olhar para adultos fãs de Disney ou Harry Potter para ver as marcas duradouras que histórias de infância deixam na vida de alguém.”
E por fim, há o conforto de não precisar pensar.
“Conforto” como estado confortável, aquele momento de preguiça, aquela posição perfeita da qual poucas obrigações conseguem te tirar. Que, nessa metáfora, é geralmente acompanhada de uma “série conforto” passando na TV.
E que, quando o assunto é cultura, se traduz no conforto de seguir conhecendo o que já é familiar e consumindo o que é conhecido, ao invés de se adaptar a tantas tendências e novidades diferentes.
É o poder que o catálogo da Netflix tem de te fazer sentir velho e adolescente ao mesmo tempo. Os pôsteres de suspenses coreanos e séries de ação se misturam às comédias românticas dos anos 2000 e às referências aos anos 80, num excesso de opções que, não à toa, nos leva a escolher o mais confortável.
É simplesmente mais fácil se apegar do que se adaptar.
Em “se adaptar” está o desconforto, o diferente, o “já passei dessa fase”.
Está aquilo que a gente não entende: o jeito que os adolescentes se vestem, as “manias” da Gen Z no ambiente de trabalho, como raios se faz uma transição no TikTok?
Ao tentar se adaptar, é normal que a gente se sinta ultrapassados.
E tá aí um sentimento nada confortável.
O grande desafio das marcas nos próximos tempos será acompanhar a velocidade das mudanças e as tantas opções à disposição das novas gerações, enquanto buscam no passado lugares de afetividade que sigam apelando ao nosso “conforto”.
Pensando bem, talvez o grande desafio de todo mundo nos próximos tempos será tirar o máximo desses momentos de conforto, sem se deixar ficar confortável demais no mundo das memórias.
⭐ Momento de Inspiração
Na semana que marca a sua provável despedida das quadras, divido com vocês uma das minhas campanhas favoritas de todos os tempos, estrelando Serena Williams. O vídeo é simples e o “copy” é a narração original de um dos vídeos caseiros do pai dela - que quem assistiu King Richard vai reconhecer. Me emociona toda vez.
Troca de abas
Novidades da Apple. Novo iPhone, novo Apple Watch, novos AirPods. Além de aspectos técnicos, merecem destaque o Watch com detecção de temperatura (tornando-o cada vez mais um gadget de saúde - e coletando mais dados) e os AirPods com case personalizável com o seu Memoji (integrando aspectos diferentes da marca pra criar um produto ainda mais desejável).
E, claro, o iPhone roxo que deixou todo fã da Apple assim:
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“Renner inova com blockchain e lança versão digital de roupas”. É impossível ler uma manchete assim sem me perguntar “o cliente da Renner sabe o que é blockchain?”. Ações como essa me fazem repetir todos os questionamentos de algumas edições atrás, quando falamos de marcas no metaverso.
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Funcionários-influencer. Matéria da FastCompany que explora como empresas tem incentivado a criação de conteúdo sobre seus ambientes de trabalho - já que ela acontece com ou sem permissão explícita.
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Uma estratégia de marketing de produto em três passos. Segundo um VP da Netflix, diretamente do blog da Section4. Um artigo pra salvar, estudar e compartilhar com o time. Os três passos são:
Como o seu produto vai encantar as pessoas?
O que vai tornar o seu produto difícil de copiar?
Como o seu produto vai ter margem?
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Não tem NADA que eu precisaria de uma newsletter inteira e muitas palavras pra elaborar, que o Casimiro nao consiga resumir perfeitamente e ainda usar "porra" e "tá maluco" no meio. O fenômeno do conteúdo acelerado, "bite-sized", "2x" é um belo exemplo:
👩🏻💻 Dica da Bia
A gente se vê? :)
Os próximos meses serão movimentados por aqui, com eventos incríveis e trocas sobre diferentes temas. Espero te ver por lá e, para facilitar, tenho desconto em todos eles. Vamos à agenda:
Dia 13 de setembro tem YOUPIX Summit,
o maior evento de influência da América Latina, e aquela única mistura de marcas, creators e criativos.
Eu estarei por lá em dois palcos (!!), trocando uma ideia sobre as mudanças no Instagram e sobre criar sem depender de algoritmos. Isso tudo com gente como o João Luiz Pedrosa, a Nátaly Neri, a Luiza Voll e o Gleidistone Silva.
BORA OU BORA? O cupom “BORA10” te dá 10% de desconto na compra do ingresso.
Dia 5 de outubro tem FUTECH Summit,
um evento de cinco dias e 160 palestras, pra te ajudar a desenvolver novas skills. A minha vai ser dia 05 às 19:30, e vai ser a primeira vez que eu vou apresentar pessoalmente o relatório de Tendências de Tecnologia e Comportamento para Marcas.
Ou seja: é uma Bits, só que ao vivo. E eu vou adorar trocar ideia com vocês lá :)
O link para se inscrever é esse aqui, e o cupom “MEVEJANOFUTECH” dá 50% de desconto.
Dias 26, 27 e 28 de outubro tem RD Summit,
o maior evento de Marketing e Vendas da América Latina, e um dos meus momentos favoritos do ano desde 2016. Vai ser um prazer voltar pra esse palco e, esse ano, DUAS VEZES (!!).
Além da palestra Love Brands (atualizada e inédita), também vou mediar um painel sobre newsletter que você não vai querer perder (confia).
O cupom “BITSTOBRANDS” dá 15% de desconto na compra do ingresso.
obrigada por ler o final, e não esqueça de compartilhar :)
👩🏻💻 curadoria e textos por Beatriz Guarezi. estrategista de marcas, curadora de conteúdo e escritora de e-mails.
📚 se você está em busca da próxima leitura, confira a Biblioteca Bits to Brands, com indicações de livros em desenvolvimento pessoal, ficção, marketing e tecnologia.
Essa ideia do conforto (nostalgia também?) para gerações anteriores é algo que me fascina, já que eu sou da geração Z (e incrivelmente eu não sei gravar um tiktok kkkk), mas sou atingido e vejo vários dos meus colegas sendo atingidos por marketing direcionados à geração Y ou X. Eu não cresci nos anos 80, mas fiquei muito feliz em participar de um "trote" na minha escola com o tema dos anos 80. Foi interessante ver todos aqueles adolescentes cultuando uma época que não vivemos kkkk. Acho que esse assunto pode ser discutido mais profundamente.
esse lance de enxergar uma tendência em muitos lugares incrível e eu tava pensando nisso justamente hoje, o corset é uma tendência que eu sou completamente apaixonada (entre outras tendências na moda) e que eu venho enxergando em muitos muitos lugares e plataformas