Bits to Brands #216 | 💡 Lives WTF, digo, NPC
WTF é a sigla em inglês para "what the f*?", ou seja, "que p* é essa?"
Previously on..
#214 | A pergunta a ser feita
#215 | A economia da newsletter
Tempo de leitura: 6 minutos
Escrevi um pouco mais do que o normal, mas havia muito a ser dito, conectado, discutido, recomendado. Sem mais delongas, vamos à edição de hoje.
- Beatriz
(para falar comigo, anunciar na Bits ou contratar uma palestra, responda esse e-mail ou escreva para beatriz@bitstobrands.com)
Assim como o Twitter confundiu o conceito de “notícia”, depois do TikTok nós perdemos o significado real de “tendência”.
Basta aparecer vezes suficientes na For You Page, ou ter alguns milhares de retweets, para alguma coisa perfeitamente aleatória ganhar status de trend ou virar manchete em algum grande portal.
Começa discretamente, até que alguém viraliza e outras pessoas começam a fazer buscando viralizar também. Aí alguém chama de “trend do momento” e chegam as páginas de meme, depois as marcas e no meio disso circulam as análises - algumas embasadas, outras só tentando não ficar de fora.
Como resultado, algo que um ou outro creator estava fazendo com um certo contexto (tem doido pra tudo na internet) vira a pauta do momento.
Quanto mais gente falando sobre, mais gente quer falar sobre, e cá estamos nós: falando sobre as tais “live NPC”. Enfim, a hipocrisia.
Lives NPC são transmissões ao vivo no TikTok em que a pessoa age como um personagem de um jogo, que só reage a comandos. Para “jogar” com ela (ou seja, comandá-la de alguma forma), outras pessoas pagam para mandar presentes e reações.
O faturamento pode chegar aos seis dígitos por live, o que fez muita gente se questionar até que ponto vale a pena se humilhar por dinheiro “fácil”.
Destaco o quote da pesquisadora Issaaf Karhawi para a matéria da Forbes:
“[sobre o ecossistema do mercado de criadores de conteúdo e os aspectos de monetização] Quais são os limites para monetizar-se a si mesmo, numa lógica do ‘sujeito como mercadoria’? Parece que estamos testemunhando novos acordos morais em jogo”.
E uma frase da Passa, especialista em creator economy e fundadora da Brunch, na sua última live:
“[sobre o que ela chamou de “sociedade da humilhação”] Se tem pessoas se humilhando, tem pessoas pagando para os outros se humilharem. A gente tem que falar do outro lado da tela também”.
Do outro lado da tela tem muita gente reagindo, pagando, curtindo, compartilhando e engajando com esse formato.
Mas também tem muita gente meio incrédula, meio rindo de nervoso e totalmente desconfortável.
Um desconforto similar ao de assistir a um episódio de Black Mirror, uma sensação de obsolescência (se internet tá virando isso aí eu definitivamente não pertenço mais), uma tentativa frustrada de olhar sem julgar… Mas como não julgar?
Como não apontar as diversas camadas de complexidade que nos trouxeram até um ponto de total desumanização, seja por dinheiro, seja por entretenimento?
De um lado da tela, alguém agindo como personagem de jogo - robótico, repetitivo, insensível, indiferente.
(ai meu deus, milho, 🌽 ai meu deus, milho, 🌽 ai meu deus, 🌽 ai meu… 🌽🌽🌽)
Do outro lado da tela, alguém tratando o outro como brinquedo, como um meme em potencial, como objeto.
(thanks for the rose, 🌹 thanks for the rose, 🌹 thanks for, 🌹 thanks for, 🌹thanks… 🌹🌹🌹).
Mas calma.
A gente não estava até pouquíssimo tempo atrás discutindo a presença cada vez maior dos robôs nas nossas vidas?
Com medo da inteligência artificial tomar o nosso lugar?
Eis que, enquanto as IAs escrevem livros, fazem pesquisas e criam todo tipo de arte, as pessoas estão agindo como bots nas redes sociais.
Se a última grande trend é baseada em repetição e desumanização, o que nos resta é esperar que ela se perca no tempo. Mas não sem antes motivar as coisas a seguirem uma direção diferente.
Em que as pessoas reconheçam o valor (financeiro, por que não?) da autenticidade e criatividade que nos fazem humanos.
Que as plataformas criem condições para que este seja disseminado da melhor forma.
E que os personagens de jogos sigam sendo os robôs que eles foram criados para ser.
⭐ Momento de Inspiração
O Boticário lançou uma linha em parceria com a Melissa. De um lado, uma marca de cosméticos cada vez mais conectada ao público jovem. Do outro, uma marca de calçados cada vez mais lifestyle.
E nós, observando sem estranhar nem por um segundo que um creme para o corpo vai ter fragrância de... sapato. Um ícone do branding sensorial.
Troca de abas
A Johnson & Johnson tem uma nova marca, como símbolo de um movimento estratégico que posiciona a empresa como inovação em saúde, com soluções de “medicina inovadora e tecnologia médica”.
Segundo o CEO, isso reflete “a habilidade única de reimaginar a saúde através de inovações transformadoras”. [link]
Tirando que a marca ficou muito menos criativa e inovadora. A cursiva humana, próxima (e até meio “letra de médico”) deu lugar a uma tipografia com aspecto genérico. E nós demos adeus a uma marca icônica.
E a saúde mental, está em dia? Foi isso que a pesquisa da Opinion Box com a plataforma Histórias de Ter.a.pia investigou. O relatório completo está disponível para download aqui neste link, e explora questões que vão desde internet e redes sociais até trabalho remoto. Alguns destaques:
_57% das pessoas acredita que influenciadores podem ajudar ou atrapalhar a sua saúde mental.
_1 em cada 4 pessoas já buscou ajuda de um profissional de saúde mental após ser impactado por um conteúdo que leu/descobriu na internet.
_82% concorda que os transtornos mentais precisam ser levados mais a sério, mas apenas 2 em cada 10 pessoas dizem fazer terapia atualmente.
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Foi de Clubhouse. O número de usuários ativos no Threads caiu mais de 80% desde o lançamento. Entre os brasileiros, o engajamento com a plataforma caiu pela metade. Não basta ter a audiência na mão se não há um produto relevante a oferecer. Até lá, seguimos no Twitter (opa, X). [link]
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Vale a pena parar para assistir:
_O “short film” da irmã mais velha que só queria fazer seu TikTok em paz, mas a irmã mais nova cortou a própria franja. É o retrato perfeito do que é ter irmãos. É entretenimento puro. É arte. [link]
_O vídeo sobre a CPTM que viralizou mundialmente, de tão genial. [link]
_O vídeo do casal que se conheceu em frente às câmeras, como parte de um programa de TV, e se apaixonou ali - na frente de todo mundo. Spoiler: casaram e estão juntos até hoje. [link]
💌 newsletter club
Metade das vagas para a nossa Masterclass de Newsletter já foi preenchida. A outra metade está disponível, para te ajudar a tirar do papel a newsletter que você nem sabe que existe aí.
Tipo a Teoricamente, da Leticia Souza, que é remetente de uma newsletter sensível e bem escrita, há mais de 30 edições.
“Eu me inscrevi pensando em como a Masterclass poderia ajudar a melhorar a news da fundação onde eu trabalhava na época, mas depois da aula percebi que esse podia ser o espaço que eu procurava para escrever sobre temas que eu gostava e trocar com as pessoas de um jeito diferente do que todo mundo andava fazendo”.
Ou a Makers Gonna Make, da Helena Carmona, que mistura boas análises e boas ilustrações em uma newsletter sobre design com mais de 50 edições.
“Minha newsletter já existia na minha cabeça há um tempinho e a Masterclass foi essencial pra tirar ela do papel. Me trouxe muita clareza na parte técnica/estratégica e ajudou a organizar as mil ideias em algo coerente. Durante os encontros mesmo eu já fui respondendo todas as reflexões propostas e quando eu vi tinha um plano super completinho, sabia com quem e sobre o que queria falar e me senti segura pra arriscar alguns dos formatos sugeridos”.
Junte-se ao nosso clube da newsletter:
(mande um e-mail para suporte@bitstobrands.com para parcelar em mais de 6x ou para condições especiais para grupos e empresas)
👩🏻💻 Dica da Bia
Boas histórias para ouvir
Na última viagem de carro, eu que sou mais dos textos do que do áudio, me rendi aos podcasts narrativos.
Culpa de dois conteúdos bem produzidos, bem narrados, daqueles que prendem a atenção e fazem falta quando acabam. Recomendo:
_ O podcast Collor vs Collor, produção da Rádio Novelo para a Globoplay, sobre política e história permeadas por intrigas familiares dignas de Succession. É informativo e extremamente inteligente, sem perder a energia de fofoca em nenhum episódio. Destaque para a narração da Évelin Argenta, sempre no ponto ótimo entre a explicação e a ironia.
_ Também da Rádio Novelo, o episódio “Os onzes”, que conecta dois acontecimentos extremamente marcantes (em proporções diferentes) que aconteceram em 11 de setembro de 2001, pelos relatos de uma equipe de jornalistas determinada a não cobri-los. Tão brilhante quanto surpreendente.
obrigada por ler até o final, e não esqueça de compartilhar :)
👩🏻💻 curadoria e textos por Beatriz Guarezi. estrategista de marcas, curadora de conteúdo, escritora de e-mails e TEDx Speaker.
📚 se você está em busca da próxima leitura, confira a Biblioteca Bits to Brands, com indicações de livros em desenvolvimento pessoal, ficção, marketing e tecnologia.
E até hoje me pergunto porque o thread’s foi criado e porque o Twitter virou X. Hehehe e no fim das contas ando preferindo usar o notes do Substack.
Collor vs Collor e Os Onzes: jornalismo em sua melhor forma <3