Bits to Brands #239 | Empatia artificial
Pode estar em falta no mundo real, mas não na inteligência artificial.
nas edições anteriores
#237 | A única tendência possível
#238 | As marcas pelo Rio Grande do Sul
tempo de leitura: 6 minutos
para entender
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Em um artigo recente, Seth Godin explora a relação entre conveniência e conforto.
Segundo ele, a gente daria praticamente qualquer coisa para economizar esforço ou tempo. Mas isso, muitas vezes, nos custa conforto.
Na Bits, com frequência questionamos as trocas que fazemos por mais conveniência (esta sempre em forma de tecnologia).
Confundimos pessoas com aplicativos (edição 61), transformamos restaurantes em delivery (edição 55), entregamos 1/3 do nosso tempo ao “arrastar para cima” (edição 183).
O que nos traz à provocação de Seth: talvez o próximo ciclo de desenvolvimento da sociedade esteja na coragem de deixar de lado a conveniência, e buscar conforto.
“Conforto”, descrito por ele como “resiliência, generosidade, satisfação no longo prazo”. E interpretado aqui como aquilo que nos faz humanos.
A nossa relação uns com os outros, com os nossos próprios valores e com os ambientes que frequentamos, e o quanto ela abastece e é abastecida pelo que somos capazes de sentir.
Nossa capacidade de interagir, refletir, evoluir. Que muitas vezes é sequestrada pelas facilidades cotidianas da tecnologia.
Mas, ao invés de nos afastarmos da conveniência em troca de mais presença (por mais que ela demande tempo e esforço), parece que o conforto que buscamos está vindo da própria tecnologia.
De forma artificial.
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Eis o GPT-4o. Última atualização do ChatGPT, que apresentou:
Respostas mais rápidas;
Capacidade de lidar com prompts em formato de texto, voz e imagens;
Aplicativo para desktop;
Interações em 50 idiomas diferentes e diversos tons de voz.
Você vai poder pedir ajuda para o ChatGPT perguntando, escrevendo, descrevendo, ou apenas apontando a sua câmera para algo ou compartilhando a sua tela.
Mas o grande destaque é como essas respostas vão surgir: em forma de conversa, cada vez mais natural, espontânea e até empática.
A demonstração passou por vários contextos, um mais surpreendente que o outro.
Aqui, a assistente virtual espontamente comenta sobre a roupa e o ambiente onde a pessoa está;
Aqui, ela atua como uma intérprete, traduzindo uma conversa entre português e espanhol;
E aqui, ela interage com um cachorro, deixando claro pelo tom da sua voz que acha ele muito fofo.
Em todos os exemplos, fica evidente a naturalidade.
Se há dois anos discutimos os limites e impactos da artificialidade da inteligência, agora a empatia também pode ser artificial.
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É difícil identificar o que veio primeiro.
Se a nossa necessidade de conexão humana, em plena epidemia da solidão, foi o briefing para que essa tecnologia ofereça mais conforto.
Ou se o objetivo era aumentar a sua conveniência, e a facilidade de interação é apenas mais uma feature na evolução da proposta de valor.
Seja como for, o racional e o emocional se confundem cada vez mais na forma com que as pessoas utilizam inteligências artificiais.
Há exatamente um ano, falávamos sobre isso, à luz do conceito de “Intimidade Artificial” e do fenômeno das pessoas que namoravam IAs.
A Intimidade Artificial já está entre nós e, assim como a sua “irmã” Inteligência, se espalha muito mais rápido do que somos capazes de compreendê-la. Que dirá chegar a um consenso sobre o seu impacto.
Nesse novo contexto, a solidão deixa de ser um sentimento e se torna uma oportunidade de negócio, um problema a ser resolvido pela tecnologia, uma “dor” de uma “persona” em algum planejamento de comunicação.
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Coincidentemente, a imagem que ilustrou essa edição era a do personagem principal do filme “Her”.
Um ano atrás estávamos sendo apresentados a pessoas iguaizinhas ao Theodore, e agora chegou a vez de conhecermos a versão “mundo real” da Samantha.
Uma voz que cumprimenta, chama pelo nome, identifica, ri, interage e adora cachorros.
Que é presença e companhia para estudar, trabalhar, traduzir, conversar. Que está 24 horas disponível para você diretamente pelo celular, ou pelo computador e em muito breve em fones de ouvido.
Que é feita para responder sem questionar, interagir sem discutir, espelhar sem verdadeiramente se identificar.
É o conforto-conveniente, ou a conveniência-confortável, com os quais muita gente vai se acostumar rapidinho.
Talvez até a ponto de deixar de lado os aprendizados e todos os sentimentos que moram no processo, nos erros, nas diferenças, nas discussões.
No tempo e no esforço, que podem ser sinônimos de "desconforto”.
Mas que também são componentes essenciais do “mundo real”, do “estar presente” e do “ser humano”.
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Para se aprofundar no assunto:
_ A atemporal (e cada vez mais relevante) palestra de Esther Perel no SXSW 2023, “Intimidade Artificial” [link]
_ Uma análise e previsões a partir das novidades da OpenAI, no blog da Section4 [link]
_ Uma thread com diversos exemplos de uso do novo ChatGPT [link]
_ Um breve comentário de Sam Altman sobre as novidades [link]
_ Acesso ao estudo da Consumoteca, Modo Prompt [link]
para inspirar
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Um grupo de pessoas criou e espalhou adesivos para materializar, em qualquer lugar, a dimensão do que aconteceu no Rio Grande do Sul. “Água até aqui” é simples, extremamente eficaz, e está disponível para quem quiser espalhar a mensagem.
Outros conteúdos que são inspiração e utilidade neste momento:
_ A Box1824 está disponibilizando seu curso sobre ESG, para incentivar doações e conhecimento sobre o tema [link]
_ O DMAE Porto Alegre tem sido exemplo de comunicação para manter a população informada - e hit nas redes sociais [link]
_ A Ana Carvalho dividiu uma sugestão de planejamento de conteúdo para quem precisa retomar “o normal”, sem seguir alheio à atenção que o RS ainda precisa [link]
para fazer parte da conversa
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O Google vai dar um Google para você
No último Google I/O, a empresa apresentou suas novidades para os próximos tempos. Todas, claro, baseadas em IA. Você vai poder buscar informações dentro do seu Google Fotos, vai poder delegar atividades na sua caixa de entrada e, aparentemente, vai fazer buscas bem mais personalizadas.
Parece que o que conhecemos como SEO vai mudar drasticamente. E, com ele, a dinâmica de blogs, notícias e publicação de conteúdo. Para melhor, é a promessa. Mas melhor para quem?
A CNN já fala em impactos "catastróficos” [link]
A Wired anunciou o “fim da busca como a conhecemos” [link]
Eis o vídeo de demonstração:
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A vez do Bumble de pedir desculpas
O aplicativo de relacionamentos Bumble fez uma campanha incentivando as mulheres a “abandonar a ideia de celibato”, presumindo que essa tendência vinha da frustração com a busca por um relacionamento.
Depois de muitos outdoors fazendo todo tipo de trocadilho, a marca aprendeu com o cancelamento nas redes sociais, que esse tema está relacionado com o poder de escolha das mulheres, questões sociais profundas e até traumas individuais. E que não era motivo de brincadeira.
A campanha foi cancelada e a marca teve que pedir desculpas.
para ler com calma
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O fim do mundo - ou quase isso. [link]
Tão perto ou tão longe dos futuros distópicos da ficção? Segundo esse artigo:
“Não é o mundo que vai acabar se deixarmos as mudanças climáticas rolarem soltas. Só o mundo como o conhecemos. E o que é o mundo senão o que você conhece? (…) Nós somos os lugares em que vivemos, as memórias que cultivamos, as pessoas que amamos e até nossos objetos favoritos”.
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Para guardar na pasta de inspirações [link]
A Docusign redesenhou a sua marca e apresentou um novo posicionamento, que conseguiu descrever o produto e apresentá-lo de forma inspiradora. Criado 100% por time interno, o trabalho está disponível de forma completa e super criativa nesse site.
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“Come to Brazil” - e melhore o seu engajamento [link]
“Agora o Brasil virou recanto pra subcelebridade estadunidense, a própria Fazenda da Record encarnada”, diz o tweet. E esse artigo explica em detalhes, exemplos e bom humor o que isso quer dizer.
para quem a gente é fora do trabalho :)
👩🏻💻
A nova temporada do podcas de Brené Brown, Unlocking Us, está focada em explorar “as possibilidades e o custo de se viver além da escala humana”.
Ou seja: da quantidade sobre-humana de informações e emoções às quais estamos sendo expostos o tempo todo.
É ótimo como ela faz perguntas simples e diretas para pessoas como Esther Perel e Amy Webb. O resultado são conversas sobre temas super complexos, como se estivéssemos todos sentados no sofá.
para mais conteúdo
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para dar um tchau
👋🏼
"Her” é um dos meus filmes favoritos, como vocês adivinharam? :)
Ano após ano, seguimos aqui conforme a realidade se confunde com a ficção. Obrigada pela companhia, e aproveitem essa edição especialmente recheada de conteúdo.
- Bia
Das melhores edições que já vi por aqui! Obrigado Beatriz! 🧡
Edição maravilhosa 👏👏🤩