Bits to Brands #207 | 💡 Uma questão de branding
O futuro precisa ser encantador. E há marcas que fazem isso melhor do que outras.
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#205 | Pocket
#206 | “Tipo o TikTok”
Tempo de leitura: 6 minutos
Tem uma coisa que não sai da minha cabeça desde que eu vi o lançamento do Apple Vision Pro (desculpem o trocadilho hehe). Se estamos vivendo no futuro eu não sei, mas acredito que vimos nascer um grande exemplo da importância do branding.
E eu adorei que ele veio de uma nova tecnologia, porque é exatamente pra isso e por isso que a Bits nasceu - há exatos cinco anos atrás. Feliz aniversário pra nós, e boa leitura :)
- Beatriz
(para falar comigo ou anunciar na Bits ou contratar uma palestra, responda esse e-mail ou escreva para beatriz@bitstobrands.com)
“Uma belíssima nova maneira de usar os aplicativos que amamos,
Uma maneira poderosa de reviver nossas memórias, uma maneira profunda de estarmos juntos, e uma maneira mágica de estarmos imersos em entretenimento.
A era da computação espacial está aqui. Este é o Apple Vision Pro”.
E este não é mais um texto sobre se o Apple Vision Pro é o futuro ou o mais recente surto coletivo do mundo tech.
Essa afirmação é muito difícil de fazer, por mais que especialistas muito respeitados estejam reunindo tudo que a Apple apresentou para construir seus argumentos.
Por um lado, o preço impeditivo para adoção em massa do produto. A esquisitice inegável de alguém usando algo tão grande no rosto em público. A solidão implícita nas imagens de apresentação mostrando pessoas sozinhas. A busca pela real utilidade de um gadget desse tipo.
Por outro lado, a mágica de um óculos responder aos movimentos das suas mãos. As infinitas possibilidades para entretenimento, interação e jogos. Um passo definitivo na direção de um novo jeito de estarmos conectados. A emoção familiar de ver a Apple lançando um produto.
Ainda é cedo para apostar as suas fichas em um ou outro. Mas tem uma coisa que eu apostaria:
O futuro é uma questão de tecnologia e também uma questão de branding.
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Ainda sobre este lançamento:
A Apple em nenhum momento se referiu à sua realidade virtual como “metaverso”. Ao invés disso, apresentou o termo “computação espacial”.
O termo “inteligência artificial” também não foi destacado como proposta de valor desse ou nenhum outro produto.
Ninguém foi visto usando o headset em público, exceto pelos vídeos pré-produzidos. Mesmo os jornalistas que testaram, o fizeram sem registros.
Ao menor sinal de “esse produto vai dar errado” em qualquer rede social, tem alguém para defender fervorosamente, resgatando desde o preço dos primeiros AirPods até a origem do iPhone.
Diferenciação. Storytelling. Controle da narrativa. Credibilidade. Amor e devoção.
Nada disso é novidade quando o assunto é a Apple, mas tudo isso fica evidente quando a pauta é um novo futuro - especialmente quando outra marca já vinha tentando apresentá-lo.
Comparando o lançamento do metaverso da Meta e do VisionOS da Apple ficam claras as diferenças - em tecnologia e design, sem dúvidas, mas em branding também.
Por um lado, temos cuidado em design, uma experiência pensada nos mínimos detalhes, uma aura de encantamento ao nos depararmos com algo que “ninguém tinha pensado desse jeito antes”.
Por outro lado, há um contexto de dominação de mercado, de exercer ainda mais controle sobre as nossas interações e uma experiência meio-The Sims-meio-redes-sociais que causou muito estranhamento.
E falando em contexto… O Facebook Inc. virou Meta e apresentou o seu “metaverso” em outubro de 2021. Também em 2021 tivemos os “Facebook Papers” e uma grande crise de imagem.
Pelo bem dos produtos, era importante que eles não fossem diretamente ligados à marca Facebook. A solução foi a aposta no metaverso (entenda tudo na edição #147).
Em resumo, a Meta propôs uma nova tecnologia como distração dos seus problemas de reputação, enquanto a Apple a apresenta como uma evolução natural - do seu negócio e da sociedade como um todo.
Não há mocinho ou vilão nessa história. Qualquer inovação que interfere na nossa capacidade de interagir, afeta o nosso corpo e captura dados cada vez mais específicos deve ser igualmente questionada.
O que existe é um novo conceito de futuro, que pode ou não se concretizar. E isso depende da capacidade desses produtos de mudarem nosso comportamento e desejos.
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Foi Brian Collins quem disse que o papel das marcas é “tornar o futuro tão irresistível que ele se torna inevitável”.
Não se sabe o quão perto estamos de trocar a TV da sala por “cada um com o seu óculos”, ou de ver pais filmando seus filhos no parquinho com um óculos-capacete no rosto, ou até das temidas reuniões corporativas entre avatares.
Mas ficamos um pouco mais próximos disso quando uma marca que sabe criar bons produtos e sabe encantar com storytelling, se oferece para guiar o caminho.
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Para saber mais sobre o Apple Vision Pro, confira:
_O relato da Nina, que estava no Apple Park conferindo tudo ao vivo;
_O vídeo oficial de apresentação do produto;
_Essa análise comparando as chances de sucesso do Vision Pro comparado ao Google Glass;
_O depoimento de um jornalista brasileiro que já testou o gadget;
_A última newsletter de um dos mais ativos haters da novidade, Scott Galloway.
⭐ Momento de Inspiração
Como você criaria conteúdo sobre azeitonas? O insight da Hemmer foi uma teoria conhecida: o casal perfeito é formado por uma pessoa que odeia, e uma que ama. Uma série de conteúdos e entrevistas buscava comprovar isso, e engajar as pessoas no processo. Vale conferir no Instagram.
(PS: aqui em casa são mais de dez anos deixando as azeitonas pra ele. Funciona :))
Troca de abas
A importância do “código da vendedora”. Esse foi o case apresentado pela FARM na última edição do VTEX Day. Vale destacar:
Existe um budget de marketing para impulsionar o conteúdo criado pelas vendedoras;
Mas isso acontece diretamente nos seus perfis, e não via marca. O objetivo é escalar a presença delas,
que já são oficialmente um canal de vendas digital, comparável a Google e Facebook e relevante nível milhões de reais em receita.
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O que significa “tendência”? Segundo esse artigo da Contagious, esse termo tem se esvaziado de significado nos últimos tempos.
“Tendências um dia significaram uma mudança social significativa. Um pensamento, comportamento, valor ou atitude coletiva, emergente e definitiva. Uma mudança na sociedade. Mas hoje ‘mermaid-core' é considerada uma grande tendência. (…) Em resumo, a gente tem confundido o que está ‘trending’ com o que é de fato uma tendência.”
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E por falar em trending, o fenômeno Carmed Fini, que levou muita gente às farmácias nas últimas semanas, começou quase sem querer e pelo TikTok.
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Uma fonte pra chamar de sua. Quem é mais atento ou mais heavy user deve ter reparado que a fonte característica dos vídeos no TikTok mudou. Ela agora é proprietária: TikTok Sans. O processo criativo por trás e repercussão após são bem interessantes de ler.
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E por falar em TikTok, mais uma evidência do seu impacto inquestionável: a marca brasileira Skala viralizou recentemente - só que nos Estados Unidos. Entre março e maio, foram enviados 10 containers de produtos para lá, versus uma média de um container por ano entre 2020 e 2022.
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O tal “quiet luxury”. Que a gente não para de ouvir falar sobre, especialmente desde a última temporada de Succession, e está explicado com contexto histórico e antropológico nessa reportagem da Folha.
💌 newsletter club
Na última edição da sua newsletter dedicada a decifrar o “futuro normal”, Henry Coutinho-Mason listou 31 notícias que apontam novos caminhos, hoje. Vale comentar que foi antes do evento da Apple :)
👩🏻💻 Dica Arquivo da Bia
Em 11 de junho de 2018,
175 pessoas recebiam a edição #2 da Bits to Brands (a #1 foi um teste para alguns amigos apenas). Que era sobre uma conferência da Apple, assim como a de hoje. E que já discutia a nossa relação com a tecnologia e o tempo - como eu nem sequer sonhava que um dia faria no palco de um TEDx.
Ter um projeto como esse é uma reflexão infinita sobre o quanto a gente evolui, ao mesmo tempo em que permanece igual. Sobre crescer em tamanho mas permanecer em essência.
Refleti sobre como eu tinha 25 anos de idade quando enviei a primeira Bits, e cheguei aos 30 profundamente transformada por esse espaço e cada uma das suas 207 edições e cada membro dessa comunidade tão legal. Sobre o tanto de conteúdo (e vida) que já passou por aqui. E como a gente tem crescido e aprendido e evoluído na carreira - juntos.
Só queria agradecer mesmo. A cada um de vocês e, em especial, àqueles que estão lendo isso agora e foram um dos 175 destinatários desse primeiro e-mail. Que jornada. ♡
Direto do arquivo: esse é um print da primeira newsletter enviada, e aqui o primeiro manifesto da Bits to Brands.
obrigada por ler até o final, e não esqueça de compartilhar :)
👩🏻💻 curadoria e textos por Beatriz Guarezi. estrategista de marcas, curadora de conteúdo, escritora de e-mails e TEDx Speaker.
📚 se você está em busca da próxima leitura, confira a Biblioteca Bits to Brands, com indicações de livros em desenvolvimento pessoal, ficção, marketing e tecnologia.
Parabéns pelo aniversário da Bits! Foi a primeira news que me inspirou a fazer a minha. 🥰
feliz aniversário para a minha newsletter favorita!