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#218 | Uma marca que dura
#219 | Pocket
Tempo de leitura: 6 minutos
Semana passada não teve newsletter. Teve mil assuntos, mas teve muito trabalho e muita vida por aqui. Culpa? Também. Como pode que a necessidade de compartilhar uma opinião sobre tudo nos roubou o direito ao descanso? Falei mais sobre isso no LinkedIn [link].
Faltam 14 dias pra gente conhecer a nova marca da Bits to Brands, e hoje tem mais um capítulo dessa história. Além de um tema que tá na minha cabeça há tempos, esperando um momento de calma pra ser elaborado.
A gente pausa, e retoma, e assim segue a vida na internet :)
- Beatriz
(para falar comigo, anunciar na Bits ou contratar uma palestra, responda esse e-mail ou escreva para beatriz@bitstobrands.com)
“Já reparou que de uns tempos para cá todo mundo fala de um jeito bem parecido na internet? Existe um motivo pra isso, e eu vou te explicar tu-dinho agora!
Meu nome é Beatriz Guarezi, eu sou estrategista de marcas e criadora da Bits to Brands. Não esquece de assinar a newsletter!”
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E é assim que eu começaria este texto, se o objetivo fosse ler em voz alta de frente para o celular para publicar em alguma rede social.
Primeiro, um título, questionamento ou provocação - quanto mais chamativa melhor.
Depois, um momento de identificação, autoridade ou call-to-action - ou todos ao mesmo tempo.
E só então você pode começar a explicar o que realmente veio para explicar.
Para quem assiste, pode ser meio cansativo esperar de 5 a 10 segundos para ouvir o que aquela pessoa tem a dizer.
Mas, para quem publica, esses segundos podem ser a diferença entre um vídeo que se espalha, e um que flopa.
A culpa é dele mesmo que você está pensando: o algoritmo.
Depois de influenciar como interagimos, o que compramos, quais notícias chegam até nós, nossa autoestima, gosto musical e até visão de mundo…
De uns tempos para cá, a lógica de distribuição de conteúdo via algorimo tem afetado o nosso jeito de falar.
Novas palavras, jeitos de construir uma frase, até a entonação, tudo feito para que o conteúdo seja disseminado. Por causa de três motivos principais:
1_ A necessidade de indexar o seu conteúdo
Com as redes cada vez menos sociais e mais pautadas em entretenimento, o conteúdo não é necessariamente entregue para as suas conexões.
Ele é espalhado por aí para pessoas que podem se interessar por aquilo, com base no que elas já se interessaram antes. Então, quem cria hoje precisa que ele seja identificado e entregue para as pessoas certas.
Da mesma forma que as palavras-chave no título trabalham a seu favor numa estratégia de SEO, enunciar o assunto não só ajuda a chamar atenção uma vez que ele chega, mas contribui para que ele vá parar naquela timeline.
2_ Reforçar a sua proposta de valor
E já que a tendência é que o conteúdo seja visto por alguém que não segue aquela conta, mas consome coisas naquele universo de interesses, ele vai chegar sempre para pessoas novas.
Ou seja: há sempre alguém no processo de descoberta daquilo. E para essas pessoas, é importante reforçar autoridade e apresentar a sua proposta de valor.
Aí, a audiência fiel é forçada a esperar aqueles segundos enquanto o creator que ela já conhece se apresenta para alguém. Recentemente, a bióloga Mari Krüger dividiu uma reclamação que ilustra bem isso: [link]
Muitos creators usam essa introdução como elemento de identificação, construção de marca e conexão com a comunidade. Para se diferenciar e ao mesmo tempo não ficar chato para ninguém.
“O-i”, diz a tiktoker antes de começar o seu “get ready with me”.
3_ Garantir o máximo de alcance
Além da repetição e do enunciado, outra influência dos algoritmos na linguagem é na adaptação de palavras, para garantir o máximo de alcance.
Alguns termos podem ser “banidos” por uma ou outra plataforma - seja por linguagem imprópria, seja por questões sociais e políticas ou até para não fazer propaganda para a concorrência.
Você certamente entende o que significa “rede ao lado”. Se o Instagram de fato derruba o alcance ao ouvir a palavra “TikTok” não se sabe, mas logo todo mundo se adaptou a uma nova forma de falar.
Esse novo idioma tem sido chamado de “algospeak”, a combinação das palavras “algoritmo” e “falar”, em inglês.
E ele não é exclusividade de uma ou outra rede social.
No Twitter, as pessoas trocam letras das palavras para que a conversa não seja “invadida” por fandoms ou bots. No Instagram, é tudo sobre garantir o alcance daquele Stories. E no TikTok, criam-se substituições para poder falar livremente de assuntos que a plataforma restringiria - como sexo, por exemplo.
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Se, por um lado, esses termos viram piadas internas e permitem que assuntos relevantes para um grupo circulem, por outro, ele também dificulta o trabalho de moderação das plataformas para garantir a segurança do conteúdo.
Da mesma forma, enquanto creators adaptam o seu jeito de falar e criam seus próprios bordões de forma inofensiva e até divertida, este não seria mais um exemplo de pessoas automatizando e robotizando seus comportamentos nas redes sociais?
Até pouco tempo atrás, ninguém falava assim.
O que mostra também a nossa capacidade de adaptação, que só acelera conforme as plataformas e suas regras mudam o tempo todo. Hoje, ilustrada pelo uso e criação de linguagem.
Não há um dicionário ou glossário coletivo, mas as pessoas estão se entendendo ali - seja para se adaptar ao novo jeito de criar e consumir conteúdo, seja para driblar as regras.
E os algoritmos? Esses vão muito bem, obrigada, firmes no seu papel de nos manter “arrastando para cima”.
⭐ Momento de Inspiração
17 milhões de views. É o que esse vídeo da Transportes Flores acumulou apenas em um tweet que viralizou - em inglês! [link]
Na simplicidade da execução de uma trend já conhecida no TikTok, essa de fotos antigas ao som de Simple Plan, o que chama atenção é o carisma das pessoas. E, claro, a capacidade de retenção de colaboradores que bota muita startup com tobogã no escritório pra chorar de inveja hehe
O vídeo foi publicado originalmente no TikTok. [link]
Troca de abas
É preciso repensar a publicidade. Ponto que este artigo faz com base no caso do caju de cabeça pra baixo, mas que serve pra tudo. [link] Destaco:
“O que se precisa acordar é que os melhores produtos da publicidade deveriam ser coerência e ética de marca. E uma prática publicitária que se faz para pessoas.”
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A Creator Economy no Brasil. Um estudo da FGV em parceria com a Hotmart, que entrevistou mais de 500 creators e traz dados financeiros e comportamentais. [link]
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Essa trend é nossa. Parece que livros agora são “cool” - parte do universo da moda e de celebridades como Dua Lipa e Olivia Rodrigo. [link]
E ainda sobre livros, uma análise sobre o design das capas de romances através das décadas, identificando padrões e trazendo insights. Tudo ilustrado pra perder um tempinho em cada detalhe. [link]
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Os segredos por trás da Rare Beauty. O que faz a marca ser mais do que uma “celebrity brand”, ao mesmo tempo em que se mantém fiel à essência da sua criadora, Selena Gomez. Um ótimo case da relação marca pessoal-marca de produto. [link]
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Com a evolução da inteligência artificial, casos assim serão cada vez mais comuns:
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O primeiro pitch do Morning Brew. Ilustrado e comentado por um dos fundadores da newsletter que levantou 750 mil dólares ali, e depois evoluiu para ser vendida por milhões. [link]
✨ a nova Bits
Capítulo 3, é preciso um vilarejo
Nos últimos cinco anos, eu fiquei muito íntima de um som. O silêncio de por volta da meia noite de uma quarta-feira, quebrado pelo som das teclas do teclado conforme uma página em branco vai virando edição da Bits to Brands.
Às vezes uma trilha sonora leve ao fundo, ou um chá quente, mas sempre o silêncio da minha própria companhia.
Longe dos palcos e antes de chegar em tantas caixas de entrada, a Bits sempre foi um lugar essencialmente individual. Eu comigo mesma, lendo, organizando, escrevendo, revisando.
Uma dificuldade grande, inclusive, era delegar funções num espaço tão da minha cabeça…
Até agora.
Parte deste movimento de marca e negócio passa por dar à Bits uma vida própria. Algo que eu criei e cheio da minha influência (não vou a lugar nenhum hehe), mas algo pra além de mim, com sua própria identidade e personalidade.
Entre a descoberta de que não daria conta sozinha e esse processo de independência da Bits, de repente éramos muitos.
Para as habilidades que precisavam ser acrescentadas, tipo design, produção audiovisual, planejamento de redes sociais… Mas também para habilidades que eu sei que eu tenho, mas sei também o quanto tudo flui mais fácil quando a gente tem com quem trocar, tipo planejamento estratégico, posicionamento de marca e preparação de palestras.
A gente vai se cercando das pessoas certas, que têm aquela energia que bate, que discordam criando algo novo, que complementam traduzindo, e aí vai vendo a mágica acontecer.
Traços que eu nunca teria desenhado, mas que são exatamente o que eu pensei. Palavras que eu não parei pra escrever, mas que dizem o que eu sempre quis dizer.
Uma marca que vai ganhando forma em diversos formatos, se expandindo através de outros olhares.
Logo eu, que sempre escrevi newsletters em silêncio, agora escrevo junto com muitas outras pessoas. E sei que, não fosse por cada uma delas, não seria a mesma história.
(3/5)
👩🏻💻 Dica da Bia
The Morning Show, terceira temporada
Um bilionário que divide seu tempo entre lançar um foguete no espaço e comprar um grande grupo de mídia. A gente poderia estar falando de Jeff Bezos ou Elon Musk, mas foi no Don Draper que a série buscou materializar esse estereótipo e discutir as suas implicações nessa temporada.
The Morning Show, da Apple TV+, retrata o pós-pandemia e as nuances do poder, da influência e da liberdade de expressão. Tudo isso nos conflitos que acontecem abertamente e nos confrontos de cada personagem com sua ambição e fragilidade. Com destaque, claro, para Bradley Jackson e Alex Levy.
Vale assistir.
obrigada por ler até o final, e não esqueça de compartilhar :)
👩🏻💻 curadoria e textos por Beatriz Guarezi. estrategista de marcas, curadora de conteúdo, escritora de e-mails e TEDx Speaker.
📚 se você está em busca da próxima leitura, confira a Biblioteca Bits to Brands, com indicações de livros em desenvolvimento pessoal, ficção, marketing e tecnologia.
que edição! o algoritmo tem influenciado TANTO o processo criativo de todo mundo porque sinto que, pela primeira vez, estamos criando DENTRO do canal de distribuição :o e isso é muuuito confuso! parece que a prioridade que sempre existiu (desenvolvimento de identidade autoral no curto → longo prazo) foi trocada pela atenção a qualquer custo no curto prazo :( mesmo que isso exija que a pessoa precise mudar completamente a cada mês para seguir se adaptando aos formatos padrões... e isso vai, sem querer desenvolvendo estéticas cada vez mais repetidas! me preocupo tanto com isso (comentário escrito de qualquer jeito pelo calor do momento ahhaha)
O louco é ler 'O-i' com a voz da tiktoker enquanto se pensa que sabe exatamente de quem você está falando 😅