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ESPECIAL | Para onde vamos em 2025
#267 | Já ganhou
e vale mencionar também a #234 | SXSW em uma palavra, sobre a edição de 2024
tempo de leitura: 5 minutos
para entender
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Em uma das palestras mais esperadas do SXSW, a futurista Amy Webb distribuiu pequenos cubos de madeira.
Antes de falar qualquer coisa, ela pediu para que todos colocassem o cubo no assento da sua cadeira. Que sentassem em cima mesmo.
Era uma representação literal do desconforto tolerável, aquele incômodo que é o suficiente para ser notado, mas que dá para “ir levando”.
Esse que parece que estamos vivendo 24 horas por dia, e que talvez seja a melhor definição deste SXSW.
A gente até tenta se concentrar em conversas sobre criatividade, sustentabilidade, marketing, conexões humanas, saúde mental, longevidade, felicidade, futuro do trabalho, privacidade…
Mas existe uma sensação constante de desconforto.
Porque há mulheres brilhantes no palco provando (do discurso às roupas) que é possível construir empresas de tecnologia de um jeito diferente - mas há um grupo de homens dominando a comunicação e o desenvolvimento de inteligência artificial, sem deixar o mundo mais seguro ou mais conectado.
Há especialistas em todo tipo de ciência humana apresentando hipóteses para como aumentar e prolongar a qualidade de vida - mas em um mundo em que as pessoas estão cada vez mais solitárias, a gente sabe que não é só sobre o corpo físico.
E há conversas entre criativos e gestores de marca sobre como vencer a batalha pela atenção com autenticidade e inovação - mas para isso, é preciso uma cultura diversa, inclusiva, com autonomia e liberdade, mas o mundo corporativo se volta cada vez mais para automação e produtividade.
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De forma super espontânea, em uma conversa com o Malcolm Gladwell, a Brené Brown disse que não aguenta mais a conversa sobre como “a inteligência artificial vai valorizar o que há de mais humano em nós” porque, segundo ela, nós somos péssimos em tudo que nos faz verdadeiramente humanos: emoção, empatia, conexão…
E esse texto poderia acabar por aqui, no desconforto de sentar em cima de dez cubos de madeira ao mesmo tempo.
Mas foi a própria Amy Webb quem disse que
“O futuro vai acontecer independentemente do seu desconforto”
O que nos traz à palavra que, para mim, representa o SXSW 2025:
Incerteza.
Na sua palestra com esse título, a especialista Maggie Jackson falou sobre como nós vivemos em uma sociedade que rejeita a incerteza.
Uma liderança que diz “eu não sei” tende a ser menos respeitada. Desde criança, nós esperamos que nossos pais tenham todas as respostas. Hoje em dia, temos todas as certezas estão à nossa disposição em segundos - seja pelo Google, seja pelo ChatGPT.
Mas ao tirar os olhos da tela, o mundo real é imprevisibilidade pura. Da ansiedade coletiva pela atmosfera política e econômica, à serendipidade dos encontros que mudam as nossas vidas.
Tudo acontece em meio à incerteza.
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E a incerteza, quando cultivada e aceita, é o ambiente onde as perguntas são feitas, as conexões acontecem e o nosso lado mais humano é capaz de florescer.
Segundo Maggie, é sobre se expor ao “não saber o resultado”, mas confiar no processo. E é algo que podemos praticar - na vida e no trabalho.
Tipo pedir um prato no restaurante sem ver a sua foto no Instagram antes (para iniciantes) ou até mesmo se deixar surpreender pela recomendação do garçom (nível avançado).
Ou dar um “ok” para uma ideia de conteúdo espontâneo, bem humorado, diferente de tudo, que tem custo baixíssimo mas alto potencial de engajamento. Postar, e ver o que acontece.
Nenhuma marca precisa virar a Liquid Death do dia para a noite, mas eu tenho certeza que aquilo que você compartilha te fez sentir alguma coisa.
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A incerteza é a única realidade possível.
Ela aumenta no mesmo ritmo do aquecimento global, da instabilidade geopolítica, da quantidade de conteúdo gerado por inteligência artificial, da velocidade com que novas tecnologias vão invadir as nossas vidas.
Sendo assim, é o único ambiente em que conseguimos fazer qualquer coisa.
Enquanto estivermos esperando as certezas surgirem para começar um projeto, um movimento ou tomar uma decisão… nada vai acontecer.
E talvez a incerteza seja justamente o ambiente ideal para sermos (pessoas e marcas) mais autênticos, mais esquisitos, mais caóticos, mais ousados, mais criativos, mais dinâmicos.
Mais únicos e memoráveis.
Só quando a gente levanta da cadeira, o cubo de madeira não incomoda mais.
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_ A cobertura completa do SXSW em vídeos, fotos e Stories aconteceu no nosso Instagram [link]
para inspirar
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Aos poucos, as principais sessões do SXSW vão sendo liberadas no YouTube. Algumas, inclusive, com tradução para português como parte do patrocínio do Itaú no evento.
Essa conversa entre Esther Perel, Amy Webb e Frederik Pferdt é uma referência não só de conteúdo, mas de forma. É uma troca com oposição, desafio e diferenças claras de ponto de vista - mediada com muita habilidade.
Estou organizando as sessões da minha curadoria em uma playlist que já tem Amy Webb, Peter Attia, a CMO da Rare Beauty Katie Welch, a astronauta Amanda Nguyen, entre outros. Disponível aqui:
enquanto estávamos de olho no SXSW
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_ A Meta estreou a sua própria versão das “Notas da Comunidade”. [link]
_ O Boticário inaugurou o Centro de Pesquisa da Mulher, para que “o corpo mais monitorado e pesquisado na internet, seja também estudado pela ciência”. [link]
_ A novela da Max, Beleza Fatal, virou assunto e virou meme, terá o seu último capítulo transmitido em pleno horário nobre. [link]
_ E falando em último capítulo, Severance encerrou a sua segunda temporada como a série mais assistida da AppleTV+ e fenômeno cultural. Boa parte disso é pura construção de marca:
para ler com calma - especial SXSW
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SXSW 2025: da vanguarda ao hype, do fight the power ao deslumbramento [link]
“O festival que antes questionava os titãs do Vale do Silício agora se tornou o lounge VIP deles. As análises que antes cobravam esses gigantes agora tentam nos convencer de que está tudo bem.”
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Longevidade em um mundo infeliz e um futuro distópico [link]
“Por que o mercado de wellness cresce dia a dia com suplementos e promessas utópicas (ou falsas?) para a conquista de uma vida mais saudável e longeva? E por que, no maior festival de inovação do mundo, estamos tão focados em nossa longevidade em vez de voltar todos os olhos para a construção de um mundo melhor?”
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A volta necessária da estranheza para a web [link]
Entrevista da FastCompany com Douglas Rushkoff, que fez uma das palestras mais provocativas do evento - um chamado para o retorno ao “estranho” que era o que a internet deveria ser, ao invés de uma grande plataforma de “monitoramento e controle”.
para mais conteúdo
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Fui até os estúdios da Hotmart em BH para falar sobre conteúdo, processo criativo, construção de comunidade, branding e tendências. Essa conversa está disponível no YouTube - e os três melhores comentários no vídeo irão ganhar um kit completo com revista e boné Bits to Brands.
Comente até 24/03 para concorrer :)
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para dar um tchau
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Depois de um breve hiato entre projetos, palestras e viver intensamente o SXSW, estamos de volta!
É sempre muito difícil resumir o evento a um ou outro insight. O seu valor está justamente na costura, no quebra-cabeça de experiências e ideias que acontecem sem parar no espaço de apenas alguns dias - e deixam a gente refletindo pelo resto do ano.
Muito do SXSW 2024 ainda ressoa por aqui, e dessa vez não será diferente. Mas espero que a cobertura diretamente de Austin e essa reflexão inicial ajudem vocês a navegar pelo contexto em que estamos construindo nossas marcas e nossas carreiras.
Se você quiser um download especial para a sua empresa ou evento, aí a gente seleciona os principais insights e faz uma curadoria e apresentação exclusiva. É só responder esse e-mail que conversamos :)
Até semana que vem!
- Bia
Excelente conteúdo! 👏🏻
Bia, gostaria de saber sobre o futuro da educação formal, foi citado algo relacionado a esse assunto de forma que possamos rever formatos e meios.