nas edições anteriores
#232 | Uma nova relação com o trabalho
#233 | O que esperar do SXSW 2024
tempo de leitura: 6 minutos
para entender
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Existe uma frase comum em Austin que é “cada dia de SXSW vale por dez”. Sendo assim, cá estou eu 70 dias depois.
Os dias aqui realmente duram mais do que o normal. Começam cedo na corrida para garantir os “fast pass” no aplicativo e terminam ao som de dois pianos simultâneos e vozes animadas - 14 horas depois.
Durante essas horas, a gente caminha pra lá e pra cá, se alimenta basicamente de lanches e Starbucks, visita ativações de marcas, evita ser atropelado por patinetes, encontra alguém conhecido e para pra conversar, pergunta “em qual happy hour você vai hoje?”, um desconhecido puxa papo na fila, fica de olho nos grupos de Whatsapp para saber o que está acontecendo onde a gente não está, pega muitas filas e, com sorte e organização, consegue assistir a 4 conteúdos por dia na busca por conhecimento e clareza.
Para onde vai o futuro? Quais são as grandes tendências para os próximos anos? Quais são as novas palavras que eu preciso aprender para fazer valer essa experiência?
Passei dias atrás disso, até perceber que não ia encontrar.
A palavra que resume o SXSW poderia ser “tendência”, mas essa visão não vem pronta, empacotada em uma palestra - nem mesmo a da brilhante Amy Webb.
Poderia ser “conexão”, porque os olhares, conversas e apresentações começam no aeroporto de Guarulhos e não param até o último dia.
Poderia perfeitamente ser “fila”, porque é realmente onde se passa boa parte do tempo.
Mas sete/setenta dias depois, nenhuma me parece mais adequada do que presença.
Estar na presença.
Para além do que as pessos falam, perceber como elas falam. Como elas falam com a plateia, como elas falam entre si, como o que elas falam me faz sentir.
Tudo isso me arrebatou já no primeiro dia, na conversa entre Esther Perel e Trevor Noah. Compartilhar as pausas, as risadas e as reflexões e me deixar levar pela inteligência dos dois mudou a minha programação para o resto do evento.
Priorizei estar na presença de pessoas que eu admiro e a energia compartilhada nesses momentos. O resto, vou certamente assistir no YouTube.
E não só estar na presença, mas também
estar presente.
Que não é sobre estar na sala. Aliás, eu vi muita, mas muita gente ocupando espaços pelo evento sem estar verdadeiramente ali. Seja por estar falando português 100% do tempo sem sair da sua bolha, seja por estar no celular enquanto as coisas aconteciam.
Estar presente será provavelmente o nosso maior desafio dos próximos tempos. Presente de forma inteira, vulnerável, autêntica.
Está cada vez mais fácil se ausentar e deixar que a IA faça por nós, ou que o algoritmo escolha por nós. Foi Brené Brown quem disse que “interagir pela internet exige pouquíssima vulnerabilidade, ao mesmo tempo em que o que viraliza é feito de emoção”.
É nesse paradoxo que a gente vai ter que saber conviver, interagir e construir marcas.
E é difícil não só porque a tecnologia torna tudo tão mais prático e rápido, mas também porque ao buscar estar verdadeiramente presentes a gente logo descobre que
presença significa ausência.
É impossível estar inteiro em todos os lugares. O exercício de presença exige escolhas constantes. Não só num evento como o SXSW, que tem dezenas de lugares possíveis para se estar a cada momento, mas no resgate da nossa capacidade de aprender e se relacionar como um todo.
Aqui entram aprendizados sobre negociação, sobre resolver conflitos, sobre se comunicar de forma clara, sobre abrir espaço para o novo, sobre fazer valer a atenção das pessoas sem se deixar levar pelo que elas esperam.
Escolher ser inteiro, ao invés de tentar estar em todos os lugares.
O que vai desde a autenticidade necessária para criar conteúdo, até a delicadeza perdida de não estar no celular enquanto outra pessoa está falando.
E quando a gente se ausenta física, mental e emocionalmente, fica mais fácil se ausentar do nosso papel nas situações. Porque
presença demanda responsabilidade.
Numa palestra sobre a Geração Alpha, ficou muito claro que eles são muito diferentes de nós - ao mesmo tempo que estão sendo criados por nós. Nosso estilo de vida, nossos traumas, nossa “terapeutização” constante.
Em outra, sobre os viéses e riscos envolvidos no uso da inteligência artificial, a dra. Joy Buolamwini deixou claro que ninguém está imune a essa questão. Nem a Taylor Swift.
Em outra sala, um dashboard desenvolvido no MIT mexia com o nível de aquecimento do planeta em tempo real, conforme o que as pessoas na sala achavam que deveria ser feito.
Não precisamos olhar para frente para enxergar complexidade. O presente já está cheio de contradições e desafios, e a solução não vai aparecer pronta - nem em uma palestra no SXSW, muito menos em uma newsletter semanal.
A única forma de encontrá-la é se colocar de forma inteira, atenta e autêntica nos lugares em que estivermos.
Se inserir no contexto, se atentar ao outro, priorizar o real sobre o virtual, mais “estar”, menos “postar”, mais “criar”, menos “replicar”. Mais presença.
com quem eu fui ao SXSW
(patrocinada por oclb)
Fui ao SXSW como parte do oclb journey, onde tive apoio na curadoria, orientações sobre a cidade e a viagem, conexões com um grupo sensacional, acesso a eventos exclusivos em Austin, além de ótimas dicas sempre à disposição.
Fazer parte desse grupo me fez conseguir vagas em espaços que precisavam de inscrição prévia, fazer novas amizades mesmo antes do evento começar e me levou a palestras incríveis que eu não teria escolhido sozinha.
O Franklin e a Carol sabem proporcionar a tranquilidade e acessos que só grandes especialistas em SXSW têm, sem deixar de compartilhar a euforia de tantas primeiras vezes.
Nos próximos dias, eles vão lançar o journey 2025 com condições especiais por tempo limitado. Inscreva-se aqui para saber de tudo e garantir essa experiência:
podcasts diretamente do SXSW
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Parte muito especial da experiência no SXSW foi o palco da Vox Media, que recebeu gravações ao vivo de boa parte dos seus podcasts.
Recomendo não só cada um desses programas e pessoas, mas os episódios que aconteceram aqui e seus temas.
Pivot
O encontro semanal entre Kara Swisher e Scott Galloway para debater tecnologia e atualidades.
Em Austin, eles falaram sobre o impacto das redes sociais na saúde mental de crianças e adolescentes, e a falta de capacidade de ação das autoridades para controlar isso. Eu pude, inclusive, questioná-los sobre qual o papel das marcas nessa história. É Pivot feat. Bits (que emoção sem fim). Já disponível aqui:
Where Should We Begin, with Esther Perel
Entre entrevistas e sessões de terapia com pessoas reais, Esther Perel segue mobiliando os imóveis que ela mesma aluga nas nossas mentes. No SXSW, ela conversou com o comediante Trevor Noah sobre humor. O que ele representa, como compartilhar uma risada é um momento de intimidade e qual o contexto necessário para que essa troca tão essencial aconteça. Em breve aqui:
Unlocking Us, with Brené Brown
A regra é clara: quando Brené Brown compartilha alguma coisa, a gente para para conferir. Livros, palestras, documentários, podcasts. Sempre vai ter algo ali para fazer pensar e olhar diferente para si mesmo e o outro. No SXSW, Esther Perel retornou como sua entrevistada, num papo entre duas mulheres brilhantes que só ficaria melhor se tivesse uma garrafa de vinho na mesa. Elas falaram sobre o paradoxo de estarmos tão conectados e ao mesmo tempo tão sozinhos. Em breve aqui:
livros diretamente do SXSW
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Um dos meus lugares favoritos foi a livraria do SXSW - uma sala repleta de livros escritos por pessoas que estavam no line-up do evento.
Algumas palestras foram diretamente ligadas à temática do livro, como a apresentação de Charles Duhigg sobre como podemos nos tornar Supercomunicadores.
Outras, tiveram o livro como extensão da conversa e aprofundamento no trabalho da pessoa, como o Unmasking AI, tese completa da keynote Dr. Joy Buolamwini (que eu comprei assim que saí da sua palestra).
Confira aqui a seleção completa de títulos:
filmes diretamente do SXSW
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A gente fala muito das palestras, mas o SXSW também é feito de entretenimento. Uma série de filmes são lançados aqui, além de shows espalhados pela cidade. O festival é conhecido por trazer em primeira mão os próximos hits do streaming - seja em áudio, seja em vídeo.
Quem acompanhou com atenção essa trilha e traz uma seleção dos filmes que passaram por Austin é Jéssica Sabatini - profissional de marketing, ex-Head Marketing Internacional na Sony Music, que está morando na California e estudando Business and Management of Entertainment focado em Film&TV em UCLA. Conecte-se com ela aqui. :)
Filmes premiados
Ontem rolou o SXSW Film & TV Awards. Aqui está a lista de todos os vencedores, e dois me chamaram atenção:
Mamífera (Special Jury Award for Performance): “Aos 40 anos, Lola enfrenta gravidez e decisões inesperadas”.
Bob Trevino Likes It (Jury Award Winner): “Após procurar pelo seu pai distante na internet, uma jovem forma, de maneira inesperada, um vínculo próximo com um homem em luto e sem filhos que possui o mesmo nome do seu pai no Facebook. Inspirado em uma história verdadeira.”
Assisti e Recomendo
Babes: um filme sobre amizade feminina, relacionamentos e maternidade. Daqueles que você ri, chora e se identifica.
My Dead Friend Zoe: sobre veteranos de guerra, amizade feminina, família e traumas. Daqueles de desidratar de tanto chorar mas também dar umas risadas no meio. A trilha sonora também é algo à parte, um filme que começa com “Umbrella” da Rihanna não tem como ser ruim.
The Fall Guy: Ryan Gosling, Emily Blunt e Hannah Waddingham em um filme que mistura ação, comédia e romance e valoriza o trabalho dos dublês. Acho que não preciso falar mais nada.
Estão na lista
Monkey Man: Não assisti o filme mas fui no talk com o Dev Patel sobre o processo de criação. Saí apaixonada pelo carisma e vulnerabilidade dele e pela história do filme. É o primeiro filme que ele dirige e foi feito durante a pandemia, com pouquíssimos recursos inicialmente, com direito a mão quebrada e equipe colando as mesas de volta para refazer as cenas. O trailer por si só já é incrível:
Civil War: Vi esse em várias listas dos mais esperados do festival e tem o Wagner Moura contracenando com a Kirsten Dust. Pra mim, um must watch.
Desert Road: Conheci dois senhores nas filas. Eles trabalham com tech no Vale do Silício mas são apaixonados por filmes, simplesmente maravilhosos. Esse filme foi indicação deles e, nas suas próprias palavras: “Não procure nada sobre o filme antes e, depois de ver, não compartilhe nada com ninguém, só fale para verem”. Seguirei essa dica e achei que merecia ser compartilhada.
The Idea of You: Três motivos para assistir - comédia romântica, Anne Hathaway e Nicholas Galitzine.
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para dar um tchau
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A edição de hoje está em formato especial para caber todas as dicas, mas não tem intenção de ser um download dos insights do SXSW - esses vêm logo, de forma mais estruturada. Ela é mais uma coleção de primeiras impressões, e de tudo de legal que eu vi por lá que você pode começar a consumir desde já.
Obrigada a todos que passaram a semana “comigo” pelos Stories na nossa cobertura completa, espontânea e vida real de Austin. :)
- Bia
muito obrigada por compartilhar tanto, Bia <3
QUE EDIÇÃO PERFEITA E QUE COBERTURA FANTÁSTICA!
"Estar presente será provavelmente o nosso maior desafio dos próximos tempos. Presente de forma inteira, vulnerável, autêntica."
Este trecho alugou moradias na minha cabeça e me faz ficar pensando sobre o quanto eu estou presente na minha própria vida e no dia a dia, sem estar com o piloto automático ligado.