Bits to Brands #202 | 💡 Uma conversa sobre o não-óbvio
Com o autor best-seller e palestrante Rohit Bhargava
Previously on..
#200 | Para ler em junho de 2026
#201 | A real identificação e as marcas
Tempo de leitura: 9 minutos
A edição de hoje é muito especial. Um pouco mais longa, mas não é sempre que a gente consegue uma entrevista exclusiva com um dos principais curadores de tendências do mundo. Espero que vocês gostem de conhecer melhor o Rohit Bhargava, e que a Bits possa sempre nos aproximar de gente incrível dessa forma :)
- Beatriz
(para falar comigo ou anunciar na Bits, responda esse e-mail ou escreva para beatriz@bitstobrands.com)
“Essa é a beleza do pensamento não óbvio: se pudermos encorajar as pessoas a olhar para o todo, elas se tornarão menos críticas, menos fechadas e menos revoltadas com o mundo. Elas se tornarão pessoas mais inteligentes, e é isso que eu quero.”
Rohit Bhargava é autor do best-seller Não-Óbvio, do recém-lançado The Future Normal, da curadoria semanal de Insights Não-Óbvios e palestrante destaque do SXSW nos últimos anos.
E é o entrevistado de hoje na Bits to Brands, numa conversa sobre o que é óbvio, o futuro, o presente, a inteligência artificial e os próprios insights. Sem deixar de perguntar também sobre a sua excelente newsletter semanal, para quem (como eu) está sempre em busca de sabedoria em “como dar conta”.
Uma conversa que traz perspectiva, sabedoria, reflexão e um certo conforto ao ouvir que as ferramentas vão seguir sendo ferramentas, e que tem muita gente construindo futuros incríveis.
Talvez seja realmente questão de olhar além do óbvio.
Te convido a ler na íntegra, mas caso queira ir direto para algum assunto, está na ordem:
- Sobre o que é “não-óbvio”
- Sobre o futuro
- Sobre curadoria e a sua newsletter semanal
- Sobre inteligência artificial
Sobre o que é “não-óbvio”
👩🏻💻 [BITS] Me conta um pouco sobre o “não-óbvio”. O que te fascina em relação a isso?
💡 [ROHIT] Eu vim do mundo do branding, publicidade e marketing. Nesse mundo, muita gente fala sobre insights. Todos nós queremos insights, certo?
O que eu percebi é que um insight não é algo que você acabou de descobrir, mas todo mundo na indústria já sabe. Isso é apenas você alcançando o restante. Um insight tem que ser algo novo para todos.
Eu já achei que tinha encontrado um ótimo olhar sobre algo, até compartilhar com alguém com 20 anos de indústria e ouvir “que bom que você descobriu, mas a gente já sabe disso há uns 15 anos”. A gente precisa se se esforçar mais. E esse virou meu desafio: encontrar algo que seja um insight para todos, e não uma descoberta para mim.
👩🏻💻 Pensando no início da curadoria dessas tendências e da construção da marca “não-óbvio” - o que te fez querer ir além do óbvio?
💡 Um sinônimo para “óbvio” pode ser “besteira” [a palavra usada foi “bullshit”]. Eu não gosto de ler besteiras, mas tem muita besteira por aí. Principalmente quando se trata de tendências. As pessoas ficam tipo “encontrei a última tendência!”, e aí elas dizem algo como “multiverso”. Isso não é uma tendência, é apenas algo que existe. Não há direcionamento.
O que isso quer dizer? Você acha que vai ser mais importante, menos importante, que as pessoas se importam com isso, que não? Qual é a tendência? Isso me frustrava muito. Comecei a descrever o que estava procurando como “coisas não-óbvias”. E quanto mais eu falava, ficava claro: por que não fazer disso a marca?
👩🏻💻 Será que às vezes o não-óbvio está bem na nossa frente, mas nós não estamos prestando atenção o suficiente?
💡 Você pode olhar para uma peça de um quebra-cabeça e ver que ela tem um certo padrão e pensar “esse quebra-cabeça é de uma maçã”. Você vê um pedaço de maçã, mas não sabe se essa é a imagem completa.
Talvez o quebra-cabeça seja uma fruteira. Talvez a maçã esteja nas mãos de alguém, mas você não tem os detalhes. Muita gente vai olhar e pensar: “é uma maçã, eu já entendi”. E o que eu os encorajo a fazer é tentar ver o quadro geral.
Essa é a beleza do pensamento não óbvio: se pudermos encorajar as pessoas a olhar para o todo, elas se tornarão menos críticas, menos fechadas e menos revoltadas com o mundo. Elas se tornarão pessoas mais inteligentes, e é isso que eu quero.
👩🏻💻 O que te ajuda a diferenciar o que é óbvio (“bullshit” ou excesso de hype sobre algum assunto) de algo que tem um insight por trás, que é capaz de tornar as pessoas mais inteligentes?
💡 Tem uma ferramenta ótima e acessível a todos, que ajuda a encontrar o óbvio. Ela se chama Google. Quando eu tenho uma ideia ou uma palavra para uma tendência, a primeira coisa que faço é pesquisar no Google. Se alguém já estiver usando, sei que é óbvio. Só talvez eu não tenha ouvido falar ainda.
Sobre o futuro
👩🏻💻 De tudo que você já estudou, o que te deixa mais animado sobre os próximos 5 anos?
💡 Me empolga muito pensar que há tantas pessoas inovando e apresentando belas soluções para grandes problemas no mundo. Escrever sobre elas dá muita esperança. Porque você está constantemente se cercando de histórias dessas pessoas incríveis, em vez de assistir a velhos filmes de ficção científica sobre como o mundo será um desastre.
👩🏻💻 As pessoas têm usado termos como “policrise” e vivido numa dúvida constante de “as coisas estão melhorando ou piorando?". O que te deixa mais ansioso sobre o futuro?
💡 Parte do perigo ser uma pessoa otimista e escrever de um ponto de vista otimista é que as pessoas pensam que você é apenas ingênuo e não está prestando atenção. É tipo: “você não está vendo isso? Você não está vendo todos esses hectares sendo queimados?”. E não é que nós não vemos.
Mas o que estamos tentando fazer é divulgar a solução em vez de reclamar do problema. E acho que há muita reclamação sobre o problema agora, sem que as pessoas falem sobre a solução.
Algumas coisas são de fato preocupantes. O que mais me preocupa é que nós, como pessoas, escolhemos ou somos manipulados por líderes ruins. Nós colocamos no comando pessoas que não merecem estar ali, que não têm talento para isso, que são egoístas e só se preocupam consigo mesmas. E quanto mais frequentemente colocamos essas pessoas no poder, pior o mundo se torna.
Sobre curadoria e a sua newsletter semanal
👩🏻💻 Como é o processo de montar uma newsletter toda semana? Como você mantém uma publicação semanal enquanto viaja o mundo e faz tantas palestras?
💡 Definitivamente requer disciplina e hábito. Mas, ao mesmo tempo, meu hotel ficava a 20 minutos daqui. Então, durante 20 minutos, estou no carro conferindo histórias.
Mesmo ocupado, eu tenho janelas de tempo que uso para encontrar histórias em várias fontes diferentes, através de um RSS Feed. Dali, uso um aplicativo para salvar as selecionadas e então decido quais vão para a edição da semana, e estou constantemente pensando em como contextualizá-las.
Então parte é escolher as histórias, e outra parte é dar a elas uma perspectiva fora do comum.
👩🏻💻 Como você equilibra o excesso de conteúdo com quantidade (e qualidade) de insights por edição?
💡 Não tenho certeza se sou a melhor pessoa aqui, porque sou escritor. Você é escritora, a gente leva muito tempo pra fazer as coisas com menos palavras. É mais fácil escrever mais. Mas você não quer que o e-mail seja longo demais.
Uma coisa que ajuda é escrever uma seção, e se ficar muito longa é porque as primeiras duas ou três frases são desnecessárias. Aí eu corto as primeiras frases. No teatro, você chamaria de “prólogo demais”. É gastar muito tempo montando e não chegar ao auge da cena. Basta ir direto ao auge.
Sobre inteligência artificial
👩🏻💻 Você mencionou recentemente em uma newsletter que a IA fará parte do nosso processo criativo, como verificação ortográfica. Eu lembro de pensar “se ele está dizendo, eu não devo me preocupar que isso vai roubar meu emprego”. Mas muitas pessoas estão realmente preocupadas. É uma possibilidade?
💡 Sim e não. Vamos pegar a tradução como exemplo [se referindo a aplicativos de tradução por inteligência artificial, como esse aqui]. Em um ambiente com milhares de pessoas em uma sala ouvindo uma palestra, a tradução por IA não vai ser o suficiente. Ela não é instantânea ou confiável como um especialista.
A tradução por IA serve para quando eu quero fazer uma sessão virtual com uma equipe de 20 pessoas que moram no Brasil e não podem pagar um tradutor. Então ou eles não trabalham comigo porque eu não falo português, ou usam uma ferramenta dessas para viabilizar. E eu acho que isso vai acontecer cada vez mais. (…)
Existe uma série de habilidades que a gente vai precisar desenvolver para fazer esse tipo de trabalho, em volta de “como usar essa tecnologia para gerar algum texto”, mas acrescentar algo real àquilo. (…)
Vamos enfrentar novos desafios e novos problemas. A novidade agora é “Alucinação por IA” – que é quando a IA cria fatos que parecem ser fatos, mas não existem. Mas ela fornece fontes que parecem reais. Porque ela gera os fatos e também gera as fontes.
Portanto, a menos que você verifique, você tem uma informação creditada a um tal “Journal of American Marketing"… Ela cria a referência completa. E se a gente não checar, aquela informação se torna uma grande alucinação.
👩🏻💻 Você acha que nós estamos subestimando ou superestimando essa tecnologia?
💡 Acho que estamos subestimando o seu potencial, mas superestimando o que ela poderia fazer sozinha. Achamos que vai assumir o controle e ter uma mente própria, e não acho que é isso que vai acontecer.
Acho que os recursos ficarão cada vez melhores e as possibilidades do que podemos fazer com eles serão melhores. Mas ainda é apenas uma ferramenta.
patrocinada por Uma Penca
Um monte de gente vestindo a sua marca
Quando a gente fala de marcas fortes e comunidades engajadas, um dos jeitos mais comuns de explicar é: “as pessoas usariam uma camiseta dessa marca?”.
Se você acredita que a resposta para a sua marca seria “sim”, ficou fácil comprovar.
A Uma Penca é um braço da Chico Rei, o e-commerce nacional líder em camisetas criativas, conhecida pelo impacto positivo envolvido nos produtos. E essa criatividade e impacto estão à sua disposição.
Você cria uma linha de estampas para a sua marca e, através da plataforma, monta um e-commerce para a sua comunidade com poucos cliques e de um jeito muito intuitivo.
É subir a sua arte e começar a vender. Simples assim. Porque eles cuidam de todo o resto.
É uma estrutura completa para vender “uma penca” de produtos personalizados, sem se preocupar com produção, logística ou tecnologia. Todas as vendas têm 1 real revertido para causas sociais, e produção zero plástico, zero lixo e vegana.
E agora - já pensou um monte de gente com a camiseta da sua marca?
Troca de abas
Especial “para ouvir”:
Minha participação no CMOs Marketers Cast, falando de construção de marca e love brands:
As Donas da P* Toda e a Thais Fabris, em uma conversa sobre o “direito ao descanso” que todo mundo deveria ouvir, não só quem tá cansado. Mas provavelmente tá todo mundo meio cansado.
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Harry Potter da Pixar. O tipo de coisa que antes a gente podia imaginar, mas agora o Midjourney materializa - um personagem de cada vez. Tipo mágica.
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Não era o Drake. Esse final de semana, viralizou uma música do Drake com o The Weeknd, cantando juntos uma série de indiretas para a Selena Gomez. Prato cheio pra internet, que até a música ser tirada do ar já tinha dado mais de 600 mil streams no Spotify e 15 milhões de views no TikTok. Até a gravadora tirar do ar, porque essa parceria foi criada por uma pessoa anônima usando inteligência artificial.
Na mesma linha, fãs que cansaram de esperar os irmãos fazerem as pazes criram um álbum do “Aisis” [trocadilho com Oasis]. Novos tempos (e problemas) para o entretenimento.
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“Cada brasileiro compra cinco produtos da Bic por ano, em média” é a primeira frase desse artigo que descreve o momento atual e futuro da empresa.
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Uma parceria inédita. Pela primeira vez, o Burger King se juntou a outra marca de hambúrgueres, e vai ter pão e molho do BK com smash burger do Patties. As redes sociais já estão amando, com destaque para o pessoal que foi exaltar no LinkedIn e descobriu que o perfil do Patties é assim:
👩🏻💻 Dica da Bia
Um bom programa para o feriado
Quem gosta de branding, gosta da Nike, gosta de boas atuações ou gosta de basquete vai gostar de ir ao cinema assistir “Air”.
“A shoe is just a shoe until someone steps into it” é uma frase que me gerou diversas reflexões - de construção de marca ao poder da influência, e a performance do Ben Affleck como Phil Knight, o fundador da Nike, me deixou tão intrigada que eu fui direto à livraria comprar a biografia dele.
obrigada por ler até o final, e não esqueça de compartilhar :)
👩🏻💻 curadoria e textos por Beatriz Guarezi. estrategista de marcas, curadora de conteúdo, escritora de e-mails e TEDx Speaker.
📚 se você está em busca da próxima leitura, confira a Biblioteca Bits to Brands, com indicações de livros em desenvolvimento pessoal, ficção, marketing e tecnologia.
Amei a entrevista!! Parabéns!!
Mas fiquei encucado com uma parte da Troca de Abas
Sobre a parte "não era o Drake" sobre a música feita com inteligência artificial, me lembrou muito o episódio "Rachel, Jack and Ashley Too" de Black Mirror com Miley Cyrus. Estamos caminhando muito rápido para uma era em que a IA vai fazer parcerias musicais que não são oficiais, apenas artificiais.
Comparando com K/DA, um grupo de cantoras/skins do jogo League Of Legends, que é formado na vida real por cantoras de diferentes países (Madison Beer, Jaira Burns, Bea Miller, etc) que dão apenas a voz às músicas, acredito que futuramente surja a possibilidade do próprio grupo, como outros representados por avatares terem músicas feitas majoritariamente pela inteligência artificial, provavelmente com correções feitas pelas cantoras reais para ajustar respiração, arranjo, afinação. O que acham?
lindo conteúdo <3