Bits to Brands #242 | Correndo atrás
do pace ideal, da meta da meia maratona, e de tudo aquilo que a gente gosta.
nas edições anteriores
#240 | Tudo personalizado
#241 | IA além do hype
tempo de leitura: 6 minutos
para entender
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Num fenômeno que atravessa gerações, formatos e redes sociais, o conteúdo sobre corrida está por toda parte.
Da prestação de contas (“o de hoje tá pago”) à aesthetic de um look que combina do boné ao tênis, de repente todo mundo é atleta amador (pelo menos nos Stories).
Se você não conhece alguém que está treinando para correr uma meia maratona - provavelmente esse alguém é você.
As explicações para isso são várias.
Começando pela saúde, claro. As endorfinas, o preparo físico, uma boa opção de “cardio”… Chegando até na estética: a queima de calorias e o fortalecimento visível.
Fora a saúde mental. O foco, concentração, disciplina, o senso de superação que transcende o esporte e impacta todas as áreas da vida.
Em termos de comportamento, a conversa fica ainda mais ampla. A corrida pode ser reflexo de uma questão geracional - a geração Z é mais saudável, bebe menos, busca viver uma rotina digna de ser compartilhada.
E há quem identifique o hype como sintoma de uma outra geração em crise. Para millennials que não conquistaram os marcos "tradicionais” de sucesso da vida adulta (casa, carro, “família margarina”), resta conquistar medalhas.
Por fim, existe o “postar” como desejo por pertencer, e o “participar” como tentativa de socializar. Grupos de corrida viraram oportunidade de encontrar um par com os mesmos valores, e Stories de quilômetros percorridos viraram isca para uma reação de foguinho.
Aqui, a corrida vai nos servir de ilustração (perfeita e literal) de como as pessoas têm cultivado e desenvolvido seus gostos. O que passa, claro, pelo conteúdo e marcas que consomem.
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Segundo a estrategista Ana Andjelic, no seu livro “The Business of Aspiration”:
“Gostos não são uma forma passiva de diferenciação social. Desenvolver um gosto é uma atividade constante, cultivada e refinada.
Eles incluem objetos, outros participantes, jeitos específicos de fazer as coisas, palavras escritas, histórias, ferramentas e acessórios, além de atenção e sensibilidade. (…)
Técnicas específicas e rituais são desenvolvidos. Comunidades se formam. Um vocabulário surge.”
(Treino. Pace. Strava. Meia. 5AM club. Tiro. Intervalado.)
As coisas que a gente gosta têm sido colocadas no centro das decisões - do que a gente cria e compartilha, do que a gente consome e compra, e do que as plataformas e marcas nos oferecem.
Não que isso seja algo novo.
A gente sempre vivenciou o gostar em forma de consumir, e as marcas sempre usaram os nossos gostos para vender mais.
Papetes do Guga ou do Senninha. CDs com encartes especiais. Revistas que vinham com pôster colecionável do seu artista favorito. Camisetas, acessórios, brinquedos, produtos de beleza. A lista é infinita.
A diferença, agora, é que “gostos” são cada vez menos inerentes.
Gostar é ativo, compartilhável, desenvolvido. Seja qual for o objeto da afeição ou hobby.
“Café, comida, viagens e exercícios não são atividades passivas. Ao invés disso, elas requerem investimento de atenção, tempo e dinheiro. E quanto mais tempo, atenção e dinheiro é investido, fazer café, cozinhar ou viajar tornam-se experiências cada vez melhores.” - Ana Andjelic
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Cada vez mais, as coisas que a gente gosta são as coisas que nos definem.
Porque definem nossas timelines, nossos armários, nosso vocabulário e círculo social.
Que são entendidos por algoritmos, e devolvidos para nós em forma de “scroll infinito” e conteúdos que inspiram pertencimento e conforto.
Num loop que cria bolhas em forma de comunidades, habitadas por pessoas que gostam das mesmas coisas.
E isso vai compondo o nosso estilo de vida que, claro, é composto por marcas.
Em produtos, serviços e objetos ligados àquilo que a gente gosta,
que, por sua vez, é aquilo que nos define.
Assim, dando várias voltas,
seja no infinito das timelines,
ou em uma pista de corrida.
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Para se aprofundar:
_ Uma análise sobre a tendência das corridas, do ponto de vista de quem corre [link]
_ O último relatório anual da Strava com dados mundiais sobre esportes e comunidades [link]
_ A definição de “running era” [link]
para inspirar
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A melhor parte de entender a relação real das pessoas com um produto é poder incentivar comportamentos inesperados - mas que fazem todo sentido no contexto. Tipo a marca de maionese que, na Venezuela, atribuiu novas utilidades para os seus potes, já que eles devem mesmo ser reutilizados.
para fazer parte da conversa
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Curtidas secretas
A aba de publicações que você curtiu está privada para todos os usuários do X. O CEO, Elon Musk, afirmou que é “importante permitir que as pessoas curtam posts sem serem atacadas por isso”. Mas essa atualização também permite que elas deem likes sem serem stalkeadas por isso.
Ficar de olho nos likes alheios era uma forma de interação que já está fazendo falta. Desde ter mais acesso aos gostos e pensamentos do crush, até investigar fofocas que poderiam passar despercebidas.
E, no lado sério da coisa, likes completamente anônimos significam que as pessoas podem engajar com conteúdo sensível ou polêmico mais livremente, sem jamais serem cobradas por isso.
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“Chorando purpurina”,
e desafiando os limites entre o adulto e o infantil. A Pixar, como sempre. E agora, a Colorama.
Uma coleção especial de esmaltes baseada nas emoções de Divertida Mente 2 acerta não só no timing, alinhado com o lançamento e o barulho em volta do filme, mas também no público.
Não é “esmalte para criança”, da mesma forma que não é uma “animação para adultos”. É mais um exemplo do criativo e interessante que existe nessa contradição, e do potencial que as marcas têm de engajar adultos não pela nostalgia do passado, mas pelos gostos que cultivam até hoje.
PS: se você por acaso está lendo isso e já trabalhou com naming de esmaltes, conta pra nós por favor como é este processo? Como é criar “verdinho enjoado” e “chorando purpurina” e chamar isso de trabalho? :)
para ler com calma
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Conteúdo transgeracional [link]
“É cada vez menos sobre ‘quantos anos você tem’ e mais sobre ‘do que você gosta’”. Estudo da Box1824 com o TikTok mostra o que diferentes gerações têm em comum - de valores a consumo de conteúdo.
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Marcas devem pensar como “lugares” [link]
Chamada de “place-making” e definida por este artigo como “a disciplina de criar e definir lugares, que envolve o seu design e ambiente para criar experiências significativas para as pessoas que os habitam”, eis uma abordagem que pode ajudar marcas a reforçarem sua presença e relevância.
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Quem é você na fila do fim do mundo? [link]
Esse é o título de uma pesquisa feita com quatro mil jovens brasileiros, para investigar as suas expectativas em relação ao futuro. Os destaques são um pessimismo generalizado, e as ações individuais para enfrentá-lo.
para quem a gente é fora do trabalho :)
👩🏻💻
Não é a primeira associação entre coragem e medo que você vai ler, certamente. Mas a forma com que essa escritora colocou o medo como “coragem feita certo” me fez parar de rolar a timeline na hora.
O medo não como oposto, e nem como parte inconveniente das decisões corajosas. E sim, como sensação necessariamente presente nas melhores delas. Como convite a ir em frente.
Como pode que o maior sinal de “pare” que o nosso corpo transmite, é ao mesmo tempo incentivo de “continue”? E como saber a diferença?
para mais conteúdo
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para dar um tchau
👋🏼
Essa semana completou 6 anos que a primeira edição dessa newsletter foi enviada, para 175 pessoas. De lá pra cá, foram quase 250 e-mails, milhares de assinantes e incontáveis sonhos realizados.
Uma jornada como essa é muito “coragem que parece medo”. Mas a gente segue com medo mesmo, porque algo sempre diz que é o caminho certo. Uma edição, um projeto, uma ref de cada vez.
Pensando em celebrar nos próximos dias, queria muito saber qual edição da Bits mais te marcou até hoje, e por que?
Aperta em "responder” esse e-mail e deixa esse presente na minha caixa de entrada? :)
Obrigada sempre,
- Bia
Em 2024 me tornei esse cara das corridas. E preciso confessar: tô amando 👟❤️
Amei demais essa edição!! Que texto!