Bits to Brands #166 | A rede social da real
Passei uma semana no BeReal, a nova rede social tendência entre a Gen Z
Previously on..
#164 | Uma questão de perspectiva
#165 | O valor do branding
Tempo de leitura: 5 minutos
Nada de “marcas no BeReal” ou “como influenciadores devem encarar o BeReal”, ou até “tendências por trás do BeReal”. Apenas um relato sincero sobre a minha experiência real com essa plataforma - que é o que ela me inspirou a fazer. Boa leitura, e recomendo demais que experimentem esse app!
- Beatriz
(para falar comigo, responda esse e-mail ou escreva para beatriz@bitstobrands.com)
Imagine uma rede social sem filtros, sem feed infinito e sem vídeos. Sem número de seguidores, sem mensagens, sem influenciadores, sem anúncios, sem algoritmo. Um lugar feito para compartilhar somente um momento por dia.
Essa é a BeReal, plataforma que já foi baixada por quase 7 milhões de pessoas e, segundo o Wall Street Journal, têm feito a cabeça da Gen Z.
Funciona assim:
Você recebe uma notificação do aplicativo, em horários aleatórios. Aí tem dois minutos para tirar uma foto, captada pela câmera frontal e traseira ao mesmo tempo.
Uma vez que você posta o seu “BeReal", você consegue ver o das outras pessoas - tanto amigos que você adiciona aos seus contatos, quanto estranhos em uma aba chamada “Discovery”.
O objetivo do aplicativo é compartilhar a sua vida, seja lá o que estiver acontecendo.
E é pra ser real mesmo. Se você não publica sua foto dentro daqueles dois minutos, ele “conta” pra todo mundo que você se atrasou X minutos ou X horas. Se você tirou uma foto, não gostou e tirou outra, ele “conta” quantas tentativas você precisou até publicar o seu Be Real.
Ou seja: ao melhor estilo “dedo duro”, a própria plataforma garante que não haja espaço para ser “fake”.
A experiência é diferente de tudo que estamos acostumados. Eu levei alguns dias para entender que não adianta tentar tirar uma boa foto da mesa de trabalho ou da TV, porque a selfie sai com um ângulo horrível. Da mesma forma, começar pela selfie faz com que o contexto não tenha tanto sentido.
Não existe MESMO foto perfeita - e logo você desiste de tentar.
Além disso, a banalidade é a regra. Em um dia, você pode ter dado um passeio, tomado um Starbucks, jantado um sushi super fotogênico… Mas o “BeReal” vai te notificar bem na hora que está na frente da TV “metade-assistindo” qualquer coisa e sendo completamente desinteressante.
Nos meus dias na rede social, eu vi muitas TVs, muitos computadores, muitos sofás, alguns pés, algumas canecas e pratos de comida.
Não vi nenhuma super produção, nenhuma foto bonita, nenhuma fofoca, nenhum conteúdo, nenhuma pose.
E isso chegou a me irritar. Teve dias em que eu não queria mais ver foto do computador dos outros. Que eu praguejei o aplicativo por obrigar a tirar as fotos traseira e frontal ao mesmo tempo (poxa, custa deixar a gente escolher? ou tirar uma de cada vez?).
Mas é que a realidade tem dessas: ela é banal, é imperfeita, pode ser chata, a pele tá ruim, mais um dia que você tá trabalhando, seja 15h, seja 20:30, nada de extraordinário aconteceu.
Isso é o normal. Quem estava nos enganando esse tempo todo era o Instagram.
A gente ficou tão acostumado a ver recortes específicos e editados da vida dos outros, a consumir CONTEÚDO como se fosse VIDA SOCIAL, que perdeu completamente a referência do que é cotidiano.
Nesse contexto, essa nova rede social veio e me trouxe de volta. Me fez postar o que eu jamais postaria, e ver detalhes da vida das pessoas que eu jamais veria.
BeReal é o anti-Instagram. Chega a ser irritante, de tão fora da zona de conforto das redes sociais. E é exatamente por isso que vou seguir dando uma chance.
⭐ Momento de Inspiração
Branded Content: expressão conteúdo de marca, ou seja, a criação de conteúdo que está diretamente relacionado ao universo de uma marca. Esse conteúdo precisa ter qualidade e relevância para o público-alvo (Rock Content).
“Apple at Work” é um dos melhores exemplos dos últimos tempos. Não só pela execução, que vem da marca mas entrega um conteúdo verdadeiramente capaz de entreter, quanto pela forma criativa com que mostra os produtos em ação.
Aliás, hoje tem um papo sobre Branded Content comigo e com a Luiza Terpins, da Caju, e a Guta Tolmasquim, da Purple Metrics. Ainda dá pra se inscrever aqui no link :)
Troca de abas
“Foi mal, galera”. Diz a retratação do McDonald's, depois de tirar o sanduíche-propaganda-enganosa do cardápio. Mesmo assim, vai ter que prestar esclarecimentos ao Procon.
Nesse meio tempo, sobrou para o Burger King também - parece que o Whopper de costela não tem costela. Quando foi que ficou assim difícil falar a verdade pro consumidor?
Repensando categorias de mídia. “É algo que é encontrado, ou algo que chega até você. Algo que existe em vários lugares diferentes, ou tem uma origem única. É algo que ganha permissão, ou é spam. Muda com o tempo, ou é estático” - e mais algumas reflexões sobre conteúdo.
Rap no metaverso. Emicida foi o primeiro brasileiro a fazer um show no Fortnite, e o CEO do Lab Fantasma fez um ponto chave sobre o futuro desse universo: “Quer ver se você gosta mesmo de metaverso? É só ter a experiência de um artista que você gosta muito”.
O futuro da creator economy. Está cada vez mais difícil competir por espaço na fatura do cartão das pessoas, tanto com assinaturas de todo tipo de streaming, quanto com outros creators. Esse artigo discute o que vem depois da teoria dos “fãs verdadeiros”.
👩🏻💻 Dica da Bia
WeCrashed
A série da Apple TV+ sobre a ascenção e a queda do WeWork vale demais o seu tempo.
Precisa ser assistida com a consciência de que é uma dramatização, mas entrega demais em atuação, produção e roteiro - com destaque para Jared Leto e Anne Hathaway, e para a trilha sonora.
Mesmo tendo acompanhado o desenrolar desses fatos conforme eles aconteciam, assisti-los dessa forma humaniza os envolvidos e inspira muitas reflexões.
Para complementar a série, recomendo:
A edição #53 da Bits to Brands, em que comentamos o IPO do WeWork conforme ele acontecia (o título da newsletter foi “WeWork e o excesso de branding”);
O artigo de Scott Galloway, que foi ponto de partida da crise;
A primeira entrevista de Adam Neumann depois de sair da empresa;
Esse artigo da Istoé Dinheiro, que conta como o WeWork está hoje, quase três anos depois. Spoiler: está super bem!
obrigada por ler até o final, e não esqueça de compartilhar :)
👩🏻💻 curadoria e textos por Beatriz Guarezi. estrategista de marcas, curadora de conteúdo e escritora de e-mails.
📚 se você está em busca da próxima leitura, confira a Biblioteca Bits to Brands, com indicações de livros em desenvolvimento pessoal, ficção, marketing e tecnologia.