Bits to Brands #243 | Marcas em Parintins
Uma ilha mágica, onde a consistência de marca não importa
nas edições anteriores
#241 | IA além do hype
#242 | Correndo atrás
tempo de leitura: 6 minutos
para entender
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Chamada de “Ilha da Magia”, existe no norte do Brasil uma cidade onde cada coração pertence a um boi.
Lá, você é vermelho, ou azul. Sem muito meio termo, e onde ninguém está nem aí para “consistência de marca”.
Se uma marca for vermelha, boa parte das pessoas vai consumir outra que é azul. Porque trocar de cerveja, ou de cosmético, ou de banco, não é nada.
Tem gente que não veste a cor da outra torcida nessa época do ano, ou que não tem sequer uma peça azul ou vermelha no armário.
Tem gente que não se mistura, que corta relações, não enche a piscina (pra não ficar azul), não chega perto de Papai Noel (aquele senhor de vermelho), que atravessa a rua para não passar na frente de uma casa com a bandeira rival na frente.
As pessoas não pronunciam sequer o nome do outro boi. Tanto Garantido, quanto Caprichoso, se referem ao outro como “contrário”.
É nessa cidade, nessa cultura, e nessa grande brincadeira de boi, que nenhuma marca quer assumir o risco de ser ou vermelha, ou azul.
Tem que ser os dois.
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“Parintins é uma ilha e fica a 369 km de Manaus. Você só consegue chegar lá por avião, lancha ou barco. A maioria das pessoas vai de barco e é uma aventura louca, são 18h de viagem, com gente dormindo em rede e a festa já começa ali. Aqui dá pra ter uma ideia da quantidade de gente embarcada e é assim que fica dentro do barco”. - Rannah Brasil
Chegando lá, as pessoas encontram uma cidade dividida. O Caprichoso é azul, e o Garantido é vermelho.
O seu boi, na bonita tradição de que quem te escolhe é ele, é a sua galera, o seu bairro, a sua decoração, as roupas que você veste.
Há mais de 50 anos, no último final de semana de junho, eles se encontram no chamado Bumbódromo: uma arena metade de cada cor. São três dias, com três apresentações que contemplam 21 itens.
“Itens” são como alegorias, e são também os critérios de avaliação para definir o campeão do ano.
“Lá dentro é uma arena, um coliseu. É tudo acontecendo o tempo todo, ritmado por um tambor alucinante e toadas que, naquele momento, são hipnóticas. (…)
Parintins é uma emoção, é da ordem do imaginário, coisa que o vocabulário ainda não alcança. Qualquer tentativa de explicar sempre será tentativa.
Sabe a sensação que o Brasil inteiro sentiu quando perdeu para Alemanha? É desse jeito que eu me sinto se o Caprichoso perde pro contrário. Para o torcedor de cada boi, não é uma firula ou apenas torcida, a gente tem certeza que é o melhor boi e que deve ser campeão.” - Henrique Duarte
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O Festival Folclórico de Parintins movimenta a economia de toda a região. Em 2023, segundo o G1, o evento gerou o valor recorde de R$ 146,6 milhões e atraiu 110 mil pessoas.
Apenas as marcas patrocinadoras investem por volta de R$ 15 milhões, e o evento atrai algumas das maiores marcas do Brasil e do mundo. Em 2024, a lista inclui O Boticário, Vivo, Bradesco, Brahma e Coca-Cola.
Naquela que é provavelmente a ativação mais inusitada do ano, todo mundo deixa de lado o brandbook, se junta a artistas locais e mergulha no universo dos bois, suas cores e seus símbolos.
“Azul e vermelho são contrários no imaginário local. As pessoas vivem as cores. As marcas entenderam isso. É como se as marcas fossem empáticas para conseguir entrar em um lado da cidade onde teriam uma barreira.” - Vitor Gavirati
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O valor de uma marca mora na sua capacidade de inspirar uma escolha em alguém.
Escolher um produto e não outro na prateleira, representa resultado para o negócio, metas batidas, retorno sobre investimento.
E também significa um bom posicionamento, capaz de inspirar preferência, identificação e conexão com as pessoas.
É esse o papel do branding o tempo todo, em todos os lugares. Não seria diferente em datas comemorativas, em festivais culturais ou em Parintins.
Mas na terra do Boi-Bumbá, nessa ilha mágica onde o guia de marca não chega, a grande diferença é que existe uma escolha que vem antes de qualquer outra.
Uma escolha que não é você que faz, é o boi.
Uma vez que o Caprichoso ou o Garantido te escolhem, todo o resto é consequência, emoção e pertencimento.
E qualquer marca vai sempre precisar se adaptar à isso.
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“O boi-bumbá é, pra gente, mais que uma festa popular. É a expressão máxima da arte amazonense. É a cultura de um povo inteiro, o trabalho de muitas mãos e um só coração que bate forte pelos bois de pano.” - Rannah Brasil
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Para saber mais:
_ O Festival de Parintins será exibido ao vivo pelo Youtube, nos dias 28, 29 e 30 de junho. Assista aqui. [link]
_ Uma thread bem explicada e ilustrada, sobre o Festival e cada um dos itens [link]
_ Um vídeo interessantíssimo, do canal “No Amazonas é assim”, que mostra ativações de marcas atuais e antigas [link]
_ Uma curadoria de creators amazonenses para acompanhar [link]
_ Uma dica de Nina Talks: o livro Design Amazonense, que fica com desconto com o cupom NINA10 [link]
& um agradecimento especial à Rannah Brasil, Vitor Gavirati, Henrique Duarte, Luisa Medeiros e Jaya Rodrigues, aqui representando todos aqueles que compartilharam depoimentos e referências comigo nos últimos dias. Vocês foram essenciais para a construção dessa edição, e me despertaram profundo encantamento por Parintins. ♡
para inspirar
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Mais uma edição do Festival de Cannes entregou centenas de prêmios, ocupou os Stories e nos encheu de FOMO.
Neste link, você encontra um compilado de todos os cases premiados este ano (e pode mandar um abraço virtual para a galera que organizou tão bem, e gratuitamente).
Alguns destaques:
A campanha que celebrou toda a inconsistência ao reproduzir a marca da Coca-Cola pelo mundo [link]
A grande vencedora na categoria Estratégia Criativa, que endereçou a relação da Geração Z com o online shaming [link]
Campanha da Amazon que relacionou e-mails de spam com impacto no meio ambiente [link]
para fazer parte da conversa
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Duolingo em Caruaru
Depois de marcar presença nos bloquinhos de carnaval, a coruja do Duolingo foi curtir o São João. O objetivo era o mesmo: lembrar as pessoas de fazer sua lição de casa. E o destino foi escolhido bem estrategicamente: o Nordeste é uma das regiões que mais cresce na plataforma.
O resultado é uma marca cada vez mais integrada à cultura, e mais fluente em redes sociais.
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CLT Premium
Em mais uma questão cotidiana que é batizada no TikTok, o “CLT Premium” é a definição de um emprego fixo com condições justas de trabalho e/ou confortos adicionais.
Desde entrar e sair no horário e não trabalhar aos finais de semana, até lanches liberados e ambientes instagramáveis.
Em meio a tantas discussões sobre gerações e o mercado de trabalho, essa trend é menos sobre ironizar, e mais sobre ostentar um trabalho com estabilidade, liberdade para gerir o seu tempo e mimos ocasionalmente. Será que estão pedindo demais?
para ler com calma
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Como são escolhidos os nomes dos esmaltes [link]
Com direito ao brainstorming que levou aos nomes da linha de Divertidamente e os critérios que definem um bom nome de esmalte, esse artigo é uma ótima leitura.
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A vida em analógico [link]
O que está por trás da busca por atividades manuais e do desenvolvimento de hobbies, longe das telas.
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A última do jogo do tigrinho [link]
Parece que agora é fazer propaganda direcionada para crianças.
“Os influenciadores mirins divulgam stories e publicações com demonstração dos jogos, fazem sorteios de prêmios para quem adquirir bilhetes, alegam supostos ganhos obtidos com as apostas e incentivam seus seguidores a aderir.”
para quem a gente é fora do trabalho :)
👩🏻💻
Nas últimas semanas, fui três vezes ao teatro. E cada vez que vou ao teatro, penso comigo mesma que deveria ir mais.
A gente passa tanto tempo consumindo conteúdo através de telas, arrastando para cima e colocando na velocidade 1,5x, que esquece que há outras referências.
Teatro, para mim, é sobre a energia que os atores, as luzes e o cenário geram, de forma única a cada sessão. Sobre me deixar levar por narrativas pouco lineares e performances com o corpo inteiro.
Sempre vale a pena.
Em São Paulo, vi Rita Lee - Uma Autobiografia Musical, Eu de Você e A Última Entrevista de Marília Gabriela. Recomendo todos.
para mais conteúdo
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para dar um tchau
👋🏼
Até ontem, “Ilha da Magia” para mim era sinônimo de Florianópolis, cidade onde eu nasci e cresci. Mas essa manezinha descobriu uma outra ilha da magia lá no Norte, e correu aqui para contar tudo que aprendeu.
Essa edição só existe por causa da generosidade e repertório da comunidade Bits to Brands, diretamente do Amazonas e cheia de histórias para contar. Espero ter feito jus à energia que eles relataram, enquanto ainda não pude senti-la, e descobrir qual será o meu boi.
O que, depois dos últimos dias, foi pra lista de objetivos :)
- Bia
Fui pra Manaus no começo de Junho, pela primeira vez. De lá, fiz um passeio por 3 dias na selva, no interior do estado do AM. Fiquei encantada com tudo o que vi. Um dia antes de ir embora, tive a oportunidade de participar de um ensaio da marujada do Caprichoso. A energia é INDESCRITÍVEL. A bateria preenche seu coração. É cultura brasileira. Fiquei triste por não conhecer mais sobre ANTES de ir pra lá. Mas hoje fiquei feliz por ver essa pauta na Bits. Parabéns, Bia, por trazer mais do Brasil pra discussão :)
hora que eu li o termo "ilha da magia", marejei os olhinhos 🥺 essa edição ❤️🔥