Bits to Brands #190 | Lensa, Spotify e os seus dados
Uma reflexão sobre infinitos dados circulando por aí - e por qual motivo mesmo?
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#188 | Copa do Mundo
#189 | Pocket
Tempo de leitura: 6 minutos
Aconteceu uma coisa muito legal essa semana. Ao descobrir sobre o que eu queria escrever, eu percebi também que já tinha falado sobre isso antes.
Fui buscar no arquivo de edições da Bits e lá em 2019 estava a edição #48, intitulada “Quanto vale a sua privacidade?”.
A continuidade e consistência de um projeto tem dessas boas surpresas, e hoje eu divido com vocês um texto escrito em julho de 2019 - e editado, adaptado e atualizado em 2022. Contextos diferentes, a mesma autora. Que bom que o tempo passa mas certas coisas não mudam. :)
- Beatriz
(para falar comigo ou anunciar na Bits, responda esse e-mail ou escreva para beatriz@bitstobrands.com)
Neste momento tem provavelmente duas coisas dominando a sua timeline: as Retrospectivas Spotify, e versões avatarizadas-desenhadas-levemente-distorcidas das pessoas, feitas por inteligência artificial com base em uma série de selfies.
O que essas duas trends tem em comum é a coleta dos seus dados para te devolver algo a ser compartilhado com os outros. Algo que fale de você - seja através do seu gosto musical, seja através do quão moderno e por dentro das novas tecnologias você é.
E tem sido curioso observar como estamos refletindo sobre o uso dos nossos dados por uma empresa, enquanto compartilhamos felizes o tanto que uma outra empresa sabe sobre nós.
Não é a primeira vez. Há anos o Spotify compartilha o nosso comportamento no aplicativo, que por sua vez é compartilhado por nós em todas as redes sociais, num dos melhores e mais esperados rituais de marca que existe.
Também há alguns anos, teve um aplicativo que surgiu como uma febre e fez com que todo mundo deixasse uma selfie e alguns dados em troca de uma versão mais velha de si mesmo - lembram do FaceApp?
Nessa época, em 2019, uma pesquisa do Nielsen Norman Group desenvolveu uma teoria que ajuda a explicar esse tipo de comportamento. Um princípio base, ilustrado pelo gráfico abaixo, que define a nossa adoção de um novo produto de tecnologia.
De acordo com a pesquisa, essa adoção necessariamente vai passar por uma avaliação de creepyness-convenience - ou "preocupação-conveniência".
O tradeoff "preocupação-conveniência" se refere à nossa intenção de aceitar os aspectos negativos de uma tecnologia que invade a nossa privacidade, para usar os serviços que ela tem a oferecer.
Vendo assim, parece complexo. Mas todos nós já fizemos essa conta em algum momento. Eu, por exemplo, tenho certeza que o Google usa as minhas imagens no Google Fotos para aprimorar a sua capacidade de reconhecimento facial e machine learning. Eu nunca li os termos e condições.
Mas a segurança de ter tudo armazenado, além de acessar álbuns por momentos, pessoas e até por busca de palavras-chave, me convence de que vale a pena disponibilizar minha vida inteira em fotos para essa empresa - mesmo sem saber exatamente o que ela faz com isso.
Quanto maior o receio das pessoas em relação à privacidade, melhor tem que ser a comunicação dos benefícios de um produto e a sua experiência. É aqui que entra também uma marca forte e capaz de inspirar confiança.
Ou, basta viralizar o suficiente nas redes sociais para que milhões de pessoas saiam baixando e utilizando uma tecnologia sem o menor receio.
No primeiro caso, temos o Spotify. Uma marca que há anos brinca com os nossos hábitos na plataforma - seja colocando nas suas campanhas, seja resumindo para que a gente compartilhe todo mês de dezembro.
O Spotify não esconde o quanto sabe sobre a gente. Pelo contrário, usa de forma criativa e devolve em forma de playlists que a gente talvez não faria melhor. Nisso, vai mudando a forma de consumir música, se tornando parte da vida das pessoas e deixando para trás qualquer resquício de “creepy”.
Mas aí vem um aplicativo como o Lensa - que em questão de dias tomou a timeline das pessoas, apesar da origem desconhecida e da política de privacidade questionável, sem contar questões como dismorfia e viéses discriminatórios.
E o que ele oferece em troca: uma série de ilustrações que “tá todo mundo postando” e/ou “nossa, que versão bonita de mim”.
Pouca "convenience", graças à utilidade limitada de uma moda que será passageira. Muita, mas muita "creepyness".
Isso invalida a teoria da Nielsen? De forma alguma. Mas escancara o fato de que a consciência sobre a nossa privacidade e dados não vem de uma hora para outra.
E por mais que se reflita, no fim a conclusão pode ser de que não tenha mais como escapar. Então para que a preocupação?
A pessoa que corre pra fazer sua versão em avatar num aplicativo X, provavelmente também não lê as letras miúdas quando faz uma compra online, muito menos considera não apertar “aceitar cookies” ao acessar qualquer site.
E eu e você somos um pouco (ou totalmente) como essa pessoa.
Mas não é porque nossos dados estão espalhados por aí, que não tenhamos que ficar atentos - minimamente - ao que ganhamos em troca.
Porque a moda passa, mas as suas informações pessoais não voltam mais.
Os seus dados tem muito valor para muitas empresas. Mas eles precisam ter valor para você primeiro.
⭐ Momento de Inspiração
Comida é afeto. É lembrança. É capaz de te transportar instantaneamente para outro momento, só pelo cheiro. Comida é emoção. Uma série de verdades que volta e meia marcas do segmento tentam usar na sua comunicação, mas fazia tempo que eu não via algo tão simples, bonito e bem executado. Talvez te faça chorar. 🥲
Troca de abas
Sobre a Copa do Mundo:
Ele é o momento. Casimiro tem batido recorde atrás de recorde na sua transmissão da Copa, e no último jogo da Seleção foi o de maior live da história do Youtube, com pico de 4.3 milhões de pessoas assistindo simultaneamente. Imagina na final.
Aliás, vazou o dashboard do YouTube do Casimiro, e eu recomendo essa análise do Vini da Agência de Bolso.
O aplicativo da FIFA com realidade aumentada me deixou muito reflexiva sobre a nossa geração que, na mesma vida, vai ter vivenciado o estádio de futebol com radinho na mão e o próximo passo disso:
Você tem passado muito tempo no celular? Fiz um TEDx sobre isso, que pode te ajudar a repensar esse vício (sem culpa!) e aproveitar melhor o tempo que passa nas redes sociais.
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Uma outra grande disputa acontecendo neste momento é o clássico Branding contra Performance. Mas já que não estamos falando de futebol, os dois podem (e devem) ganhar juntos. Essa apresentação dá dicas valiosas de como performance pode construir marca, e esse artigo explica como o Airbnb tem encontrado a sua fórmula ideal.
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E por falar em branding, essa é especialmente para os designers. A KIA é uma das patrocinadoras da Copa do Mundo 2022, e toda a exposição que a marca vem tendo aumentou consideravelmente o número de buscas… por uma montadora chamada KN. 🥲
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A próxima “big thing”? Dos mesmos criadores do DALL-E, foi liberado para testes essa semana um chatbot de inteligência artificial que aparentemente é muito inteligente. Tem gente fazendo perguntas de programação, perguntas filosóficas, perguntas de provas, análises e comparações, todas respondidas com sucesso. Esse cara pediu o rascunho de um TED Talk - e recebeu.
Tem gente especulando que esse tipo de tecnologia é o futuro da Wikipedia, e até do Google. Seria o fim da página de resultados de busca, já que a resposta para qualquer pergunta viria “direto”. E todos esses anos de SEO, para onde vão? Fiquem de olho nisso.
💌 newsletter club
O jornalista Bruno Capelas entrega toda semana na caixa de entrada um mix perfeitamente equilibrado de música e drinks, que só lendo pra entender. Tão inusitado quanto agradável de ler. A dica de hoje é a Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. E fica registrada a minha curiosidade para qual será a trilha sonora do meu drink favorito, o Fitzgerald :)
👩🏻💻 Dica da Bia
Um pedido
Nos últimos dias, Santa Catarina foi atingida por uma forte onda de chuvas, que deixou muitas pessoas desabrigadas e cidades inteiras ilhadas. A situação da Grande Florianópolis, inclusive, é bastante crítica.
Aqui em casa estamos contribuindo com a Associação de Mulheres do Monte Cristo, parte da rede Gerando Falcões, que tem documentado diariamente no Instagram a situação nas comunidades que tem ajudado e as necessidades de doações - seja em dinheiro, seja diretamente em materiais de limpeza, transporte e água.
Saiba mais, entre em contato e, se puder, faça a sua doação:
obrigada por ler até o final, e não esqueça de compartilhar :)
👩🏻💻 curadoria e textos por Beatriz Guarezi. estrategista de marcas, curadora de conteúdo, escritora de e-mails e TEDx Speaker.
📚 se você está em busca da próxima leitura, confira a Biblioteca Bits to Brands, com indicações de livros em desenvolvimento pessoal, ficção, marketing e tecnologia.
ARRASA DEMAIS TÔ TOTALMENTE EM CAPSLOCK PELA NEWS
Bia entregando absolutamente tudo semana após semana. Hoje chorei e fiquei :O Apenas leiam.