Bits to Brands #47 | A criptomoeda do Facebook
A criptomoeda do Facebook
Voltamos.
Equilibrar um trabalho full-time e um projeto de conteúdo e as oportunidades maravilhosas geradas por ele é mais difícil do que eu pensava. Segue, porém, infinitamente recompensador. Às vezes é preciso um tempo para dar conta de tudo, mas sempre chego lá.
Nesse caso, aqui na sua caixa de entrada. Agradeço a compreensão e as mensagens de quem sentiu falta da Bits to Brands nos últimos dias. Tem novos planos, parcerias e ideias incríveis vindo por aí, além de muita informação pra dividir. Vamos em frente com a maior edição até agora, pra dar conta de tudo que rolou nas últimas semanas :)
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A essa altura você já deve ter ouvido falar da Libra. E se você é como eu, e acompanha os principais canais de tecnologia, viu que tem muita gente dividindo o seu ponto de vista sobre o assunto. Muitos e divergentes pontos de vista.
É a reinvenção do Facebook. É o futuro do dinheiro. É mais uma etapa da dominação mundial do Zuckerberg. É muita cara de pau querer proteger dinheiro sendo que não protege nem os nossos dados pessoais da Farmville. É uma revolução. É uma brincadeira de mau gosto.
Em todo esse buzz, perde-se um "detalhe", bem menos óbvio do que parece: o que é essa tal criptomoeda do Facebook?
Para entender isso claramente, é preciso dividir essa frase ao meio. Primeiro, o fator "criptomoeda", e depois o fator "Facebook".
1) Criptomoeda
Apesar de alguns especialistas discordarem, o entendimento geral que se tem é que a Libra é uma criptomoeda. Assim como o Bitcoin, por exemplo.
E quando a gente pensa em Bitcoin logo vem à cabeça os altos muito altos, seguidos por baixos significativos no valor dessa moeda - que a tornaram, na prática, muito mais um ativo de compra e venda pela sua valorização em si, do que objeto de transação entre pessoas.
O Facebook sabe disso. Assim, um dos pontos centrais da Libra é a sua promessa de ser, ao mesmo tempo que "digitalmente nativa e global", "estável e amplamente aceita".
O que garante isso, e a diferencia das outras criptomoedas, é o que eles chamam de "infraestrutura financeira", composta por:
- um blockchain "seguro, escalável e confiável";
- o lastro por uma reserva de ativos "criada para garantir seu valor intrínseco";
- a Associação Libra, "uma organização independente encarregada do desenvolvimento do ecossistema".
Essa Associação, composta por empresas de diversos segmentos, é chave nesse modelo porque endereça não só a confiança na moeda em si e a estabilidade do seu valor, mas também o próximo ponto: ser uma ideia vinda do Facebook.
2) Facebook
Tudo sobre o posicionamento da Libra parte do princípio que ninguém confia no Facebook. Começando pelo discurso "change the world" de garantir que todos tenham acesso a dinheiro, diminuir as taxas de transações internacionais e tornar pagamentos e remessas "tão fáceis quanto enviar um SMS".
Além disso, o Facebook convidou outras empresas para esse projeto, se tornando 1/28 (futuramente 1/100!) nessa história, somente o precursor do movimento. Isso na esperança de blindar a Libra dos seus problemas - que vão de segurança de dados (ou a falta dela) à relação inescrupulosa com anunciantes.
Basicamente, se esse plano der muito errado, a "culpa" é compartilhada por todo mundo que investiu. Mas se der muito certo, Zuck vira o jogo e se prova um dos grandes inovadores do nosso tempo.
E ele está claramente determinado a fazer isso dar certo. Prova disso: Calibra.
O Calibra, sim, é "oficialmente" do Facebook.
Com essa ligação bem explícita no nome e na identidade visual (branding, né, gente), ele é a carteira por onde você gerenciará suas Libras. E adivinha só? Será integrado ao Whatsapp e ao Messenger, além de ter seu próprio aplicativo.
No seu post oficial, o Zuckerberg falou que "toda informação que você compartilhar com o Calibra será mantida separadamente das suas informações compartilhadas no Facebook". Mas no mesmo post, ele fala sobre como "isso é parte da nossa visão de uma plataforma focada em privacidade - onde você pode interagir de todas as formas que quiser, enviando de mensagens a pagamentos."
Ou seja, o Calibra é vendido como algo que será ao mesmo tempo apartado e incorporado ao Facebook. E o grande veículo da criptomoeda que "é de todo mundo".
O que nos traz às conclusões:
- Não dá para subestimar. A integração à plataformas que já movem tantos negócios, como o Whatsapp, e a rede mundial de parceiros como Visa e Mastercard dão acesso e abrangência sem precedentes.
- Mas também não dá para apostar todas as fichas. O histórico de modelos de negócio e práticas de privacidade questionáveis tendem a tornar tudo que o Facebook cria um prato cheio para investigações, debates e até regulação.
A questão central aqui é: o Facebook fez um ótimo trabalho criando, nomeando e posicionando um produto que se aproveita da sua abrangência e facilidades, enquanto se afasta da sua reputação.
Mas no fim do dia, dinheiro é sobre confiança. E se você não confia em Zuckerberg para gerenciar o seu feed de notícias, você confiaria nele para gerenciar o dinheiro de bilhões de pessoas no mundo todo?
Para saber mais sobre esse assunto:
- O whitepaper oficial, que tem explicações detalhadas sobre cada aspecto da Libra;
- O breakdown completíssimo que a TechCrunch fez;
- A crítica do Manual do Usuário;
- O debate de Scott Galloway e Kara Swisher, no brilhante podcast Pivot;
- E o alerta da FastCompany sobre os riscos da Libra à democracia.
Fomos um pouco além do tamanho normal, mas 2020 está logo ali e a gente vai querer acompanhar essa revolução (ou tentativa?) de camarote. Com pipoca. E com muita cautela, porque Facebook vocês já sabem..
- Beatriz
~ uma explicação dessas! ~
que foi fruto de muitos (mas muitos) links, vídeos e explicações que você não precisou ler, porque essa newsletter filtrou tudo, organizou as informações e explicou de um jeito simples.
todo mundo merece essa facilidade na vida.
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Os melhores links da semana
O pedido de desculpas que a gente merece SIM
Que os deepfakes podem ser usados para desestabilizar instituições a gente já sabe, mas eles também podem trazer importantes reparações. Como essa do Jon Snow, sobre a catástrofe que foi a finale de Game of Thrones. Não que eu esteja pronta para perdoar.
"Old, online and fed on lies"
Esse artigo do Buzzfeed explora a relação com a internet e as redes sociais de uma geração que não era velha o suficiente para ficar de fora, mas não era jovem o suficiente para ser integrada. Eles foram "largados" na internet, e hoje são os maiores disseminadores de fake news. Um estourador de bolha daqueles.
Banqi e a batalha pelos desbancarizados no Brasil
A Via Varejo agora tem uma fintech para chamar de sua. De olho nos mais de 5 milhões de clientes no carnê e outros 20 milhões que têm cartões cobranded da varejista, a Banqi quer alcançar logo o número de clientes do Nubank, e vai usar toda a força das Casas Bahia para isso. Watch out.
O ranking das redes sociais mais populares dos últimos tempos
Animado. Dá para ver direitinho a ascensão e a queda do Orkut e do Myspace, e a dominação completa do Facebook. Assista mais de uma vez para pegar todos os detalhes :)
A revolução nos esportes femininos
Que momento. Que mulher. Que prazer imenso trazer esse assunto.
Essa imagem dela de braços abertos - artística, desafiadora, orgulhosa, sensível, poderosa, inspiradora, tudo ao mesmo tempo, é um ícone dos tempos que estamos vivendo.
Mesmo que aos poucos, as mulheres ocupam cada vez mais espaço nos esportes - e usam o espaço que conquistaram para cobrar mais reconhecimento e respeito nessa e em todas as áreas das suas vidas.
A JWT explica bem as tendências que surgem a partir disso, nesse artigo.
Segundo eles, conforme atletas mulheres se tornam influenciadoras globais, suas competições esportivas trazem audiências maiores, e consequentemente, maiores contratos de patrocínio e cobertura da mídia.
O crescimento dessas heroínas do esporte tem mudado toda a representação e linguagem sobre o que significa ser mulher, e como retratar força, potência física, suor, paixão, propósito e sucesso. Narrativas que, graças a mulheres como Megan Rapinoe e Marta, não são mais exclusivas do universo masculino. E todas as marcas estão tendo que se ajustar.
Vai, planeta!
A revolta dos recebidos
Outro assunto que rendeu nas últimas semanas foi o desabafo da influenciadora Camila Coutinho, conforme ela dava dicas para as marcas de como usar a estratégia de "recebidos" da melhor forma para todos os envolvidos.
Isso inspirada pela visão de uma porta aberta revelando um quarto cheio de roupas e caixas, que ela espontaneamente chamou de "quarto do pânico".
Se até uma das pessoas que MAIS recebe coisas de todo tipo de marca está exausta, é sinal de que esse modelo precisa mudar.
Levei essa discussão também para o Twitter.