Bits to Brands #48 | Quanto vale a sua privacidade?
Quanto vale a sua privacidade?
Há motivos de sobra para desconfiar da tecnologia. A gente sabe.
É rede social rifando seus dados, aplicativo acompanhando a sua localização, assistente ouvindo a sua conversa.
Os termos e condições que deveriam proteger - ou pelo menos avisar - dessa invasão toda seguem incompreensíveis. A gente aceita sem ler e segue uma vida cada vez mais vigiada e compartilhada - com e sem autorização deliberada.
Recentemente, uma pesquisa do Nielsen Norman Group construiu uma teoria em cima desse comportamento. Um princípio base, ilustrado pelo gráfico abaixo, que define a nossa adoção de um novo produto de tecnologia.
De acordo com a pesquisa, essa adoção necessariamente vai passar por uma avaliação de creepyness-convenience - ou na minha tradução, "preocupação-conveniência".
O tradeoff "preocupação-conveniência" se refere à nossa intenção de aceitar os aspectos negativos de uma tecnologia que invade a nossa privacidade, para usar os serviços que ela tem a oferecer.
É como uma análise custo-benefício, em que colocamos em jogo o quanto perderemos de privacidade contra os benefícios que receberemos em troca. O resultado é necessariamente um tradeoff - parte-se do princípio que em pleno 2019, não dá para ter ambos.
Vendo assim, parece complexo. Mas todos nós já fizemos essa conta em algum momento. Eu, por exemplo, tenho plena certeza de que o Google usa as minhas imagens no Google Fotos para aprimorar a sua capacidade de reconhecimento facial e machine learning. Eu nunca li os termos e condições.
Mas a segurança de ter tudo armazenado, além de acessar álbuns por momentos, pessoas e até por busca de palavras-chave, me convence de que vale a pena disponibilizar minha vida inteira em fotos para essa empresa - mesmo sem saber exatamente o que ela faz com isso.
Quanto maior o receio das pessoas em relação à privacidade, e este por sua vez cresce cada vez que qualquer big tech comete um deslize, melhor tem que ser a comunicação dos benefícios de um produto e a sua experiência. É aqui que entra também uma marca forte e capaz de inspirar confiança.
Ou, trazendo um baita plot twist para essa história, basta viralizar o suficiente nas redes sociais para que milhões de pessoas saiam baixando e utilizando uma tecnologia sem o menor receio.
Pode entrar, FaceApp.
Para dar um nó na nossa cabeça, depois dessa análise tão bem embasada, temos que confrontar o fato de que um aplicativo vindo "do nada", criado na Rússia (!!) e com uma política de privacidade genérica para dizer o mínimo foi o mais baixado na Play Store com 50 milhões de downloads.
A sua proposta de valor: ninguém pode ficar sem compartilhar uma versão de si mesmo no futuro - velho, enrugado e com cabelos brancos.
Zero análise de tradeoff. Zero "convenience". Muita, mas muita "creepyness".
Isso invalida a teoria da Nielsen? De forma alguma. Mas escancara o fato de que a consciência sobre a nossa privacidade e dados não vem de uma hora para outra. Ela é fruto de um processo, de muita reflexão e até de um certo nível de privilégio (assunto para outra edição).
É preciso olhar além das modinhas - sejam elas filtros de fotos ou testes de personalidade via Facebook - e enxergar que as nossas informações pessoais são cada vez mais valiosas. E não é tudo que vale a renúncia delas.
Já passamos do ponto em que dá para se preservar 100%. Mas o mínimo daqui para frente, é sabermos exatamente o valor que estamos obtendo em troca da nossa privacidade.
Essa troca precisa valer a pena.
A consciência é o primeiro passo. Espero que hoje você tenha aberto um pouco mais os olhos para isso. E que resista ao próximo filtro da moda no Instagram.
- Beatriz
~ se você não tem um amigo que baixou o FaceApp essa semana ~
esse amigo é você.
mas se você tem, encaminha esse e-mail. não tem problema baixar aplicativos só por diversão, mas cuidar da nossa privacidade também é importante.
fora as referências e o conteúdo de qualidade que chega toda semana :)
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A Lu do Magalu é o melhor exemplo de personificação de marca atualmente.
Ela é um personagem sem ser infantil, é uma figura feminina sem cair em estereótipos, é um bot de atendimento sem ser robótica e limitada.
E assim se tornou uma ferramenta incrível para expandir a presença da Magalu em diversos universos. Ela faz cobranding, vai na Parada LGBTQ+, sofre com a Seleção Brasileira. Ela interage com consumidores, e também com influenciadores. Até o assédio que sofre, ela denuncia.
A simpatia que ela acumulou se reverte em valor para a marca, quando em meio a uma situação que tinha tudo para ser um caos de imagem, "culpa do estagiário" e chuva de memes, ela toma a frente e assume o erro.
Com direito até a um "quem nunca". Muito nossa amiga. Case maravilhoso. Um beijo, Lu.