Bits to Brands #44 | A "aplicativização" das pessoas
A "aplicativização" das pessoas
Uma newsletter é o constante montar de um quebra-cabeças (e talvez seja por isso que eu goste tanto do processo).
Começa por identificar as peças (acontecimentos) e como elas se encaixam entre si, para o resultado final ser algo não só encaixado, mas fácil de entender e que inspire uma reflexão sobre o todo, não somente sobre as partes.
Dito isso, tentei de diversas formas montar o desta semana, até que percebi que o mais interessante nele são as peças. E que as pessoas podem ter resultados finais diferentes a partir delas.
Então, seguem abaixo três links e, depois deles, a minha conclusão. Aí você tira a sua sobre uma das mudanças que acho mais importantes no mundo em que vivemos (esse de tecnologia, marcas e comportamento).
1) O "Quiet Mode" da Uber
A Uber está testando nos EUA em algumas modalidades um botão de "silenciar" o motorista . Ao pedir uma corrida, você pode escolher se prefere fazer a viagem em silêncio ou se está disposto a conversar.
2) Essa thread sobre o último dia de trabalho do Floyd, que foi carteiro dessa vizinhança por 35 anos
Dessas coisas que dão um calorzinho na gente. Vale cada tweet. "Floyd has seen his people through many of life’s changes. Some good, some bad." Lá pela metade eu já estava chorando.
3) A rotina dos entregadores de aplicativo em São Paulo
Pessoas que pedalam 30km entre as suas casas e as regiões mais movimentadas para passar o dia todo pedalando e, muitas vezes, dormir na rua para aproveitar o tempo.
A minha conclusão:
Muito se fala sobre a 'aplicativização' dos serviços e como ela revolucionou a forma com que nós vamos aos lugares e pedimos delivery, e como isso consequentemente mudou nossos hábitos alimentares e a frequencia com que saímos de casa... Mas não há discussão suficiente sobre a 'aplicativização' das pessoas.
Não faz muito tempo que o entregador do seu restaurante favorito era sempre o mesmo, e se duvidar quando você ligava para o restaurante eles te conheciam pelo nome, sabiam o seu pedido e você podia pagar fiado. Ou que o meio de transporte era o taxista do ponto mais próximo da sua casa, para onde você ligava e eles não precisavam de GPS para te encontrar.
As nossas relações com prestadores de serviço estão mudando muito, muito rápido. E eu me questiono se para melhor. A gente nunca teve tantas pessoas diferentes nos prestando serviços e nunca soube tão pouco (ou sequer se importou em saber) sobre elas.
Porque agora, entre nós e esses prestadores de serviço, tem uma tela. Um produto. Uma UX. Uma marca. Quem está vindo te buscar é "o Uber", quem está trazendo a sua janta é "o iFood", quem faz suas compras é "o Rappi". E para quem gostaria de pedir silêncio em um botão, o que é um bom dia, um boa noite, ou um muito obrigado?
Aí eu penso no carteiro Floyd e a sua intimidade com aquela vizinhança. Não estamos nada longe do dia em que não haverão Floyds, mas drones. Ou self-driving vans. Ou lockers onde cada um pega a sua própria correspondência. Conveniente? Super. Mas será que é um substituto válido para a familiaridade com outra pessoa?
E quanto às marcas e produtos que se inserem nessa relação, gostei muito da ação do iFood com os entregadores, ao criar espaços de convivência e descanso. Mas será que essas empresas em geral têm a preocupação de evitar a desumanização dessas pessoas? Será que elas se esforçam para preencher o vácuo da figura próxima e familiar que era o entregador ou o motorista?
Sabe aquela pergunta-chave para qualquer inovação, a do "como será o mundo quando 1 bilhão de pessoas usarem esse serviço?". Talvez a gente não esteja levando as relações humanas em consideração como deveria ao responder.
Na dúvida, me esforço sempre para tratar bem esses prestadores de serviço (enquanto zelando pela minha segurança). E sigo refletindo.
PS: Entendo a complexidade desse assunto e adoraria ouvir opiniões diferentes da minha. Caixa de entrada está aberta, a um "reply" de distância. E se você está lendo isso e trabalha em uma dessas empresas, vou adorar trocar uma ideia sobre, inclusive posso fazer um follow-up desse assunto na próxima edição.
Hoje não tem GIF porque tudo me pareceu engraçadinho demais, e acho que esse assunto deve ser levado a sério. Semana que vem eu posso colocar dois para compensar :)
- Beatriz
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Os melhores links da semana
O remake de A Caverna do Dragão da Renault
Essa referência é menos sobre a campanha em si (não que ela não seja muito legal), e mais sobre mais uma marca validando uma das tendências que mapeamos no início do ano. Todo mundo tentando vender os anos 90 para a geração dos anos 90...
Como a Stitch Fix 'adivinha' o estilo das pessoas
Um dos melhores cases de experiência de compra, personalização e uso de dados. Todo mundo deveria entender melhor o que a Stitch Fix está fazendo, e esse link é um ótimo começo.
Um resumão dos produtos e cases mais recentes do Google
É basicamente o que esse artigo assinado pelo Presidente da Google Brasil oferece. Esse é para guardar na pasta de referências e consultar constantemente - selo ThinkWithGoogle de qualidade.
Criando filhos em tempos de Alexa
Uma ótima reflexão sobre o que a presença de um assistente virtual faz com as crianças que não conhecem um mundo diferente. Segundo o autor, algumas crianças aprendem a dizer "Alexa" antes dos nomes dos seus pais. Black Mirror ou vida real?
Quem vamos no Festival Path?
Neste fim de semana vai ter Festival Path em São Paulo. O "SXSW Brasileiro", que fica a cada ano maior, vai ter a sua sétima edição na Avenida Paulista e arredores nos dias 1 e 2 de junho.
A Ana Couto e a LAJE estarão lá com uma série de palestras e ativações. Destaco a palestra da nossa CEO, Ana Couto (herself), no sábado, e a palestra dos diretores do foco de marca, no domingo. Sou suspeita para falar do time com quem eu trabalho, mas quem botar na agenda não vai se arrepender.
Como parte dessa programação, vou comandar junto com a diretora de estratégia da AC, Lais Cobra, uma discussão sobre um dos temas mais atuais e relevantes na construção de marca: a responsabilidade cada vez maior que temos sobre os produtos e ideias que colocamos no mundo.
Vai ser domingo, 2 de junho, às 15h, no espaço Ana Couto/LAJE no Tivoli Mofarrej, aberto ao público (para quem tem ingresso do Path e também para quem não tem!), gratuito e o mais colaborativo possível.
Vamos trocar uma ideia lá? :)