Bits to Brands #42 | O fim de uma era (e de Game of Thrones)
O fim de uma era
É só isso. Não tem mais jeito. Acabou. (Boa sorte)
Quer dizer, vai acabar. Domingo. Temporada 8, episódio 6. The end.
Para Game of Thrones, e também para esse tipo de experiência de entretenimento.
Eu sinceramente acho que não vai ter nada nos próximos tempos que gere o mesmo frenesi e proporcione tamanha troca entre gente do mundo inteiro, quanto o episódio final que assistiremos domingo.
Mérito dos roteiristas, produtores, elenco e da HBO? Sim. Mas também ao formato e às mudanças trazidas pelo streaming.
São três os principais aspectos que fazem de Game of Thrones uma experiência, e cada um deles está sendo radicalmente transformado (senão extinto) pelas novas plataformas.
1) Todo mundo, no mundo todo, assistindo no mesmo horário.
Isso pra mim é um dos principais causadores desse sentimento "Copa do Mundo". A gente conta as horas e sabe que precisa estar sentado na frente da TV naquele momento, ou não vai ser a mesma coisa (spoilers!!). Isso faz com que todos estejam assistindo (e comentando) juntos, mesmo que alguns de madrugada.
O fator 'on-demand' do streaming, apesar de muito conveniente, não dá espaço para esse tipo de coisa. Uma nova temporada, por exemplo, mesmo que lançada no mesmo dia, pode ser assistida a qualquer horário, e também em diferentes quantidades de episódios por vez. O que me leva ao próximo ponto.
2) As teorias, memes e debates que emergem entre um episódio e outro.
As milhões de pessoas assistindo todo domingo faz com que os 6 dias entre um episódio e outro sejam repletos de comentários em todas as redes sociais - sobre o episódio que passou, as referências a temporadas anteriores, as teorias sobre o que está por vir e, claro, os memes.
Ser um fenômeno da cultura pop é um fator, mas os dias entre um episódio e outro permitem essa "digestão" coletiva, e constroem a ansiedade para os próximos.
O binge-watching, por mais que tenha se tornado parte essencial de como a gente consome conteúdo, acaba com isso. Porque ver vários episódios seguidos não permite a mesma atenção aos detalhes, diálogos e nuances do que ver um de cada vez. E em muitos casos, não permite que a audiência amplifique questões levantadas nos episódios.
Vivi isso recentemente ao assistir "Coisa Mais Linda", do Netflix. Cada episódio tem cenas fortes, e questões que mereciam muita discussão. Mas por ser uma série curta, que a maioria das pessoas assistiu de uma vez, restou comentar como um todo, ao invés de repercutir as cenas e os cliffhangers de cada episódio. E por falar neles,
3) Cliffhangers.
Game of Thrones é brilhante ao terminar um episódio logo após, ou logo antes, de algo gigante acontecer. Aliás, a cena final da sétima temporada foi boa parte do que nos segurou por quase dois anos enquanto a oitava não saía.
Justamente porque o interesse tem que se manter entre um episódio e outro, e entre uma temporada e outra, para garantir que estaremos todos de volta ao sofá no mesmo horário.
Hoje, o "próximo episódio começando em 3, 2.." tanto não estimula os grandes acontecimentos entre um episódio e outro, quanto pode fazer com que eles passem mais batidos do que deveriam, já que não tem minutos de créditos subindo com uma trilha sonora forte e uma semana inteira até sabermos o que aconteceu.
É indiscutível o fenômeno que essa série se tornou. Mas isso será exacerbado nos próximos tempos pela potencial ausência de novos fenômenos, já que a nossa fonte principal de entretenimento será o streaming (alô Netflix, Hulu, Apple, Disney, HBO, Quibi, etc etc etc).
E por mais que tenhamos muito conteúdo incrível por vir, ele vai ser consumido de forma bem diferente.
O que nos resta é curtir a experiência - talvez pela última vez. Pra quem curte assistir "juntos", eu sempre comento os episódios no Twitter :)
- Beatriz
~ sabe a galera com quem você vai assistir ou comentar Game of Thrones? ~
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Zuck out
Uma das imagens que ilustra o artigo do NYT, de uma conferência de 2016. Achei interessante por si só, no contexto então..
Depois do Scott Galloway, da Elizabeth Warren e do Roger McNamee, o Zuckerberg agora está sendo (nada sutilmente) convidado a se retirar por Chris Hughes - co-founder do Facebook e amigo desde os tempos de Harvard.
O artigo que ele escreveu essa semana no New York Times tem um pouco de nostalgia, muita reflexão e eu diria até que uma dose de arrependimento. De toda forma, é um relato muito bom do crescimento desenfreado dessa empresa e do seu impacto inimaginável.
Alguns trechos:
"What started out as lighthearted entertainment has become the primary way that people of all ages communicate online."
"The choice is mine, but it doesn’t feel like a choice. Facebook seeps into every corner of our lives to capture as much of our attention and data as possible and, without any alternative, we make the trade."
"Mark may never have a boss, but he needs to have some check on his power. The American government needs to do two things: break up Facebook’s monopoly and regulate the company to make it more accountable to the American people."
"No one knows exactly what Facebook’s competitors would offer to differentiate themselves. That’s exactly the point. (...) When it hasn’t acquired its way to dominance, Facebook has used its monopoly position to shut out competing companies or has copied their technology."
Por enquanto, Zuckerberg está segurando a pressão, e inclusive já respondeu que "se você se importa com a democracia e as eleições, então você quer que uma empresa como nós possa investir bilhões de dólares por ano em ferramentas avançadas para combater interferências".
Por enquanto.
(Ainda nesse assunto, o The Guardian também publicou um artigo com 25 motivos pelos quais "Zuckerberg has to go".)